terça-feira, 31 de março de 2009

Otaviano, Otaviano...

O personagem citado estava deleitando-se na praia de Copacabana (na época em que isso constituía uma forma saudável de lazer). Tinha acabado de dar o seu depoimento a uma equipe de reportagem da Rede manchete, que perguntava qual era a sua opinião sobre a dita "invasão" àquela praia feita pelos moradores de bairros menos favorecidos.

Ele estufou o peito e, como um autêntico garotão nascido e criado na Zona Sul carioca, disse que cada um tem que se divertir no seu próprio bairro, ao invés de invadir o território alheio. Falou assim mesmo, usando essas mesmas expressões, tal qual um guepardo na Savana Africana.

O amigo que estava ao seu lado preferiu não emitir uma opinião sobre o assunto, a fim de não se indispor com Otaviano e criar um clima ruim diante das câmeras. Mas foi só a equipe se despedir e ganhar uma certa distância dos dois que Pedro, o amigo de Otaviano, lhe chamou a atenção pelo teor altamente preconceituoso do comentário de Otaviano que ficou para a posteridade. Ao qual Otaviano tevea audácia de retrucar:

"Ah, Pepê, mas convenhamos. Pagamos um IPTU altíssimo, aluguel caríssimo, damos o nosso suor para manter um padrão elevado de vida e poder desfrutar dessas belezas naturais, e vem uma cambada que pega não sei quantos trens e uma miríade de ônibus pra bagunçar a nossa praia. Veja bem, eu reconheço que todos têm o direito de se divertir, mas cada um no seu espaço, morou? Misturar pra quê? Nem a gente e nem eles ganham nada com isso. Eles que fiquem lá na praia de Ramos deles, não é mesmo?

Pedro, sujeito de natureza habitualmente tímida e submissa, discordava com cada palavra proferida por Otaviano, mas, mais uma vez, preferiu abster-se de qualquer comentário, para não se zangar com o amigo. Mas, de si para si, formulava pensamentos da seguinte espécie: "Mas como pode ser idiota quando quer, esse meu amigo Otaviano. Às vezes eu me pergunto por que ainda perco o meu tempo andando cm gente assim".

Poucos segundos após essas declarações polemizantes de Otaviano, ele soltou mais uma pérola, ao olhar em direção à rua: "Lá vem mais uma leva daqueles ônibus suburbanos, esses porta-mulambo." Mas logo engoliu em seco, quando viu que de um desses ônibus desceu a sua esposa, que veio , junto com os 4 filhos pequenos, correndo em sua direção. Pedro riu gostoso, como criança em dia de São Cosme & Damião, e dessa vez não conseguiu ficar calado.

"Acho que os seus mulambinhos vieram te buscar pra você voltar pra tua praia de Ramos, ó Justo Veríssimo!"

Um comentário:

ELENA BARROS disse...

Praia de Ramos é dose....