domingo, 15 de março de 2009

Exibindo perfis

Era um artista incomparável . Um performer de mão cheia, daqueles que se entregam de corpo e alma para o público presente, mesmo que esse fosse dos mais apáticos. Para ele uma meia dúzia de gatos pingados já constituía um multidão.

Foi descoberto ainda no final dos anos 60, nas famosas domingueiras dançantes dos subúrbios cariocas. Eram os tempos românticos em que ir da Zona Sul para a Tijuca representava uma verdadeira aventura. Quem diria, né? Aliás qualquer lugar em que gente como Tom Jobim, Vinícius de Moraes e Francisco Buarque de Hollanda tivessem nojinho de botar os pés era logo taxado de subúrbio. Quem diria, né?

Mas, voltando ao nosso incansável ás da melodia. Nessas domingueiras movidas a muito suor e coração, lá estava ele: impecável e impassível. Alucinado e Alucinante. Ele tocava a sua guitarra e dançava com um gingado impressionante. Conquistava até quem tivesse o mais duro coração de pedra. Você poderia até não ser um apreciador do estilo musical que ele estivesse interpretando, ou talvez achasse os seus trajes por demais escandalosos, mas que ele tinha talento de sobra e um carisma raramente visto... Ah, disso era impossível duvidar...

E o palco para ele era como um imenso pátio de escola na hora do recreio. Ele brincava com o público, brincava com os igualmente excelentes músicos que o acompanhavam, tudo era festa. Podia ser segunda ou sábado. Pra ele não havia diferença. Os dedos deslizavam pela sua guitarra elétrica e tudo era razão para escancarar a sua dentuça na maior das alegrias. Quem viu não podia esquecer, por mais que tentasse. E aí eu pergunto: tentar esquecer? Para quê?

Era óbvio que um artistaço desse não merecia outro destino que não fosse a fama em todo o nosso querido Brasil varonil. E assim se fez. Ascendência meteórica para o topo de todas as paradas. Quantas coletâneas de 14 mais não incluíam pelo menos um de seus vários sucessos? Qunatos casamentos e namoros não se iniciaram justamente por causa dessas mesmas canções? Era um sucesso que desconhecia barreiras sociais. A década de setenta foi dele, e isso ninguém podia negar.

Tudo bem, nas décadas seguintes não conseguiu manter o mesmo sucesso, mas é sempre lembrado com muito carinho e consideração por todos que tiveram o inenarrável prazer de escutar pelo menos uma de suas obras imortais. E imorais, de tão boas que eram!


Hoje em dia elogia desbragadamente o Skank. Quem diria, né?