domingo, 5 de julho de 2009

Gasturas ordinárias

À mesa com Monteiro Lobato? Francamente... cada coisa com a qual a gente se depara...

Sem desmerecer aqui a preciosa obra de um dos nossos maiores escritores. Longe disso. Mais longe ainda do que querer me parecer com o Nick Olivieri, principalmente no que diz respeito aos trajes (ou ausência de) usados para as performances. Ai... Michael Philip jagger e o auge da sua androginia... se sentindo tão gay de tanta gayzice...

Deveria ser um tanto quanto esquizóide sentar-se à mesa de jantar (ou almoço, dependendo da posição do meridiano) cara a cara com Monteiro Lobato. Aquela sobrancelha, aquele bigode, aquela orelha, aquele mau hálito...

E, pior ainda, imagina se, nessa refeição hipotética, foi ele quem sugeriu o cardápio? Tem idéia do que pode nos esperar? No mínimo deve ser algo como ensopadinho de petróleo, carne suína assada e milho. Ou ainda arroz, feijão, carne e professor de física do Colégio pedro II.

Aí tá, inicia-se a refeição. Está você (aquele "você" hipotético que tanto irrita alguns de nossos professores de Língua Portuguesa) lá cortando o seu porquinho assado quando o Lô começa com uma série de elocubrações, verdadeiros ensaios literários, disparados pelo seu bacamarte bucal com uma velocidade vertiginosa. "Eureka!", diria você. "Agra eu sei como seria conversar (ou melhor, ceder os ouvidos) com George Orwell em plena fase de gestação do seu inolvidável romance 1984!"

Você lá comendo e o Lô disparado, falando pelos cotovelos. Aí você percebe que em certos quesitos a boneca (de pano, não de Olinda) Emília é uma (ou um? Vais de Said Ali ou de Evanildo Bechara?) personagem parcialmente autobiográfica. Não fosse o seu companheiro de mesa personalidade tão ilustre, certamente você já teria vociferado, plantado os cinco dedos da sua mão direita na fase magra/quase eqüina dele e transformado um sossegado banquete em uma autêntica briga de rua, com palavrões proletários e tudo o mais. A impressão que dá é a de que assim se segue uma refeição de Monteiro Lobato: uma garfada, meia hora de falatório, mais uma garfada, e assim sucessivamente. Se uma pessoa dessas toma café da manhã, almoça, faz um lanchinho e janta, então ele devia passar a maior parte do seu dia sentado na mesa da cozinha, só esperano o próximo prato.

E mais desagradável ainda, imagine, seria o seu susto se, ao final da tão prolongada e exaustiva refeição, o Lô confessa que não abre mão da sua sobremesa de manga, a qual (para mais tristeza ainda de tua parte) ele faz questão de comer com talher e guardanapo. E dá-lhe mais uma hora! E o cafezinho depois, lógico. Esse provavelmente estará gelado em seus últimos goles.

E na hora de ir embora, quando todos se levantam da mesa, você percebe que Lô, bem à vontade devido ao fato de estar em sua própria casa, estava esse tempo todo trajando um shortinho de nylon Silze, com as duas raquetezinhas desenhadas na lateral e tudo.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

leonel

Os anos de trabalho naquela empresa nem tão vital assim foram se passando, e em contrapartida a paciência de nosso personagem (ou a personagem? Said Ali!)foi ficando cada vez mais curta. Curtíssima, aliás, como aquela famosa canção do Módulo 1000. Quem quer ver as imagens? Tens certeza do que estás me mostrando?

Era um tal de cliente metido a macho, cuspindo grosso e segurando pra não botar as mãos nas cadeiras ao reclamar da demora para ser atendido, entre outras questões menores, do plano terreno. E o tal curtíssimo ali, tendo que aturar. Logo ele, que não tinha nada a ver com o assunto, Nem trabalhava naquele setor. Aliás, ele nem trabalhava lidando com o público. E ele lá, aturando o filhote de Clint Eastwoood.

E o cliente reclamou, reclamou e reclamou. E depois, só para variar, reclamou mais um pouco. Depois de um sem fim de lamúrias, o clinte (de Clint Eastwood, reparem) virou-se de costas para o curtíssimo, para observar uma coisa qualquer que fosse. Nessa hora, curtíssimo deixou levar-se pelo impulso e deu a língua para o clinte, numa atitude carregada de uma deliciosa gaiatice juvenil. Mas essa gaiatice não passou despercebida por clinte, que na mesma hora voltou-se para o curtíssimo.

O resto é estória. Os dois olhares (um de mel, e o outro com algo de esverdeado)encontraram-se (seria mais correto, nessa situação, dizer que chocaram-se) e aí vocês podem bem imaginar o que aconteceu. E podem ter certeza de que não temos aqui o início de um belo caso de amor entre iguais.

terça-feira, 30 de junho de 2009

o Roger Waters era muito feio

Imagine a cena, a situação.

Nóbrega estava sentado no banco da praça lendo o seu jornal, quando de repente, por descuido, o seu celular cai do bolso de sua calça semi baggy. Automaticamente, ao ouvir o barulho, ele olha para baixo, e ao ver o seu telefone móvel caído no chão estica-se como pode para reavê-lo. Porém, uma voz exclama:

- Não precisa se preocupar, deixa que eu pego.

Logo ele percebe que o dono da tal voz é um rapaz de garboso trajar (gabardine, por sinal)e maneiras muito polidas. Ou seja, um tipo acima de quaisquer suspeitas que sejam. Nóbrega sente até um certo alívio, pois do jeito que esta cidade anda...

Mas a sua alegria e o seu alívio pouco duram. O citado rapaz, ágil como um gato (embora logo percebamos que trata-se na verdade de um gatuno, quiçá uma ratazana em disfarces), pegou o aparelho móvel do senhor Nóbrega e, andando tranqüilamente, passou reto por ele, sem devolver-lhe o seu bem. indignado, Nóbrega logo reclama:

- Ei, não devolver-me-ás o aparelho de telefonia móvel? agora fiquei de fato pasmo! Falaste com tanta polidez para eu deixar que pegasses!

- Ué, e foi o que eu fiz. Não fui incoerente em momento algum. Eu disse que iria pegar o seu aparelho de telefonia móvel, e foi o que fiz.

- Ah, um ladrãozinho, é? Vou chamar aquele policial ali! Guarda Juju!!

O nobre paladino urbano não se fez de rogado e partiu à caça do bandidinho. montou no seu patinete motorizado, novo acessório gentilmente cedido pela Polícia da cidade. Mas, para infelicidade de todos (a não ser do bandido), o mobilete do guarda Juju bateu no mobilete de um outro policial que estava na praça, e ali terminou a perseguição.

Lamentável, pois a distãncia do bandido era tão ínfima que em poucos minutos os policiais o pegariam.

(baseado em fatos reais)

quinta-feira, 28 de maio de 2009

geadas da serra

Fui convidado a fazer uma visita ao apartamento do casal caretinha. E, acreditem se quiser, eu fui! Da mesma forma que George harrison começou a ir aos autódromos assistir às corridas de Fórmula Um depois que ele saiu dos Beatles. Porém tenho certeza de que George o fazia com mais alegria do que eu fiz ao ir à casa do já citado casal.

Cheguei na hora marcada, cravadinha, como bom sujeito pontual que sou. Convidaram-me para um almoço, então cheguei às doze e trinta, confrme o marcado. Chegando perto do apartamento comecei a ouvir música, muito embora não soasse exatamente como música aos meus ouvidos, e logo veremos por que.

Toquei a campainha e logo fui recebido com muita alegria pelo Caretinha. Ele estava de calça jeans, para dar um ar mais informal ao encontro. mas aquelas calças jeans bem caretas, quase na altura do umbigo, com a camisa polo por dentro da tal claça, e adornado com um cintinho de couro trançado. Preciso dizer que o Caretinha usava um cavanhaque? E, dito e feito, eu logo reparei uma etiqueta dependurada na calça baggy do Caretinha. Muy provavelmente ele deve ter comprado às pressas, para não fazer feio diante da visita tão despojada.

A tal música citada era nada mais nada menos do que Stanley Jordan, vejam vocês. Fiquei com medo de que ele resolvesse atacar de Al Jarreau, ou talvez Quincy Jones, vai saber? Depois, pra "pesar" um pouco mais o ambiente, ele botou um disco do Sixpence None the Richer, ou Couting Crows, ou qualquer um desses matchbox 20's e marron fives da vida.

Depois do almoço, como já era de se esperar, foi servida sobremesa de manga com talher e guardanapo. Se estava uma delícia? Claro que não.

A sorte deles é que eu não sou das pessoas mais antipáticas e desagradáveis. Se fosse algum outro seria capaz de ocorrer o seguinte diálogo na mesa de jantar:

_ Gostas de blues?
_Não.
_Gostas de Jazz?
_Não.
_De country and western?
_Não.
_Então do que gostas?
_Do mal fadado punk rock.

terça-feira, 19 de maio de 2009

fá-lo-á porque quererá

O doutor Jairo Almeida está aqui para esclarecer algumas dúvidas sobre esse terrível mal, o Colesterol. O que é? Como ataca o nosso organismo? Seguem abaixo alguns questionamentos que as pessoas costumam fazer em relação a isso:

- O Colesterol é transmitido através de picadura de mosquitos?

- Quimioterapia é uma solução eficaz contra o colesterol?

- O vírus do colesterol consegue se proliferar em temperaturas extremamente baixas?

- O Colesterol é transmitido através de fungos?

- O uso correto do preservativo é uma boa maneira de se prevenir contra o Colesterol?

- Freddie mercury e Mauro Facio Gonçalvez têm em comum o fato de terem morrido de Colesterol?

- Lavar bem as frutas e verduras antes de comê-las diminui de forma sensível a quantidade de colesteróis nesses alimentos?

- No caso de uma explosão do Colesterol teremos que sair às ruas com as faces protegidas por máscaras, como ocorre vez por outra na Cidade do México?

- O grupo de risco, smpre citado quando falamos sobre o Colesterol, é um mito?

- A troca do sangue pode eliminar por completo o vírus do Colesterol?

- Quais drogas podem aumentar o risco de contrairmos o Colesterol?

- Comprimidos, pomadas ou xaropes? Qual o melhor remédio para cuidar do Colesterol?

domingo, 17 de maio de 2009

portuários

Todo dia eu saía pra trabalhar, e lá pelas 8 e poucas da manhã eu passava pelo botequim que fica a poucos quarteirões da minha casa, onde eu visualizava já uma pequena turma com o copo em mãos. Quando eu voltava do trabalho e obrigatoriamente passava em frente a esse mesmo recinto, por volta de umas 12 horas depois, o movimento já estava mais intenso, mas notava que aquela mesma turma que eu via de manhã permanecia ali, quase que em sua totalidade.

A princípio isso me intrigava. Eu tentava imaginar como é que essas pessoas conseguiam levar tal estilo de vida. E o pior, de domingo a domingo. A qualquer dia e hora que eu passasse por lá encontraria aquela mesma turma. Podia mudar até o atendente, mas a velha turma nunca. Jamais.

Com o passar dos dias essa intriga foi transformando-se em inveja. Aí toda vez que eu passava por lá, principalmente quando eu estava a caminho do abate - quer dizer, do trabalho - e eu via aqueles desocupados com o semblante inchado e marejado eu automaticamente pensava de mim para mim: "Eu é que queria ter essa boa vida. Passar o dia inteiro fazendo o que gosto, e esquecendo-me dos meus problemas e de toda a humanidade em geral. E pra ficar todo dia assim provavelmente esses safados devem ser sustentados por alguém. No caso dos mais novos, que não devem ser aposentados, devem ter uma esposa iludida que dá um duro danado pra pagar o aperitivo desses indolentes..."

Numa manhã de segunda-feira, ao passar pela enésima vez por aquele botequim no meu trabalho, deu-me algo na cabeça e resolvi parar naquele bar. Encontrei um espaço entre aqueles corpos que pareciam estar plantados ali há dias e solicitei uma Skol. O toque elegante e curioso desse meu pedido é que fazia muitos anos que eu não botava uma gota de álcool na boca. O atendente deve ter estranhado o contraste entre a minha figura, com roupa limpa e bem passada e os cabelos recém-lavados esculpidos por uma fina camada de gomalina, e a figura daqueles corpos em tal estado que só eram conservados pelas injeçõs (via oral) homéricas de álcool etílico.

Aqueles que pensam que eu me limitei a uma única Skol e depois segui o meu caminho rotineiro para a lida estão redondamente enganados. Já os que intuiram que uma Skol puoxu a outra que puxou a outra, e assim sucessivamente, estão e... eeeê, São Paulo... ê, São Paulo... exatos!! Só me levantei daquele banco depois que o Sol havia se posto. Na verdade horas depois desse fenômeno natural. Lá pras nove da noite levantei-me, sabe-se lá com que forças, e encaminhei-me para a minha residência, parecendo uma garrafa de Velho Barreiro ambulante. Vale ressaltar que a minha degustação etílica não restringiu-se somente às cervejinhas. Aventurei-me também por outras sortes de traçados e licores.

E assim foi nos dois dias seguintes. Como eu não tenho a mesma resistência física dos meus "colegas" de balcão não pude agüentar essa bebedeira por muito tempo. E não demorou para que eu pagasse um preço muito alto por essa imprudência. Tal qual um River phoenix (se é que é assim que se escreve). Com a diferença de que um apaixonado Milton nascimento não fez nenhuma canção de lamento para mim. Vendo a coisa por esse prisma, graça a Deus.

E terminei a minha anedota tal qual uma cerveja: gelado e em cima de uma mesa.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

aquatarkus

Fui ao armazém comprar alguns víveres, entre eles um quilograma de chã. Quando cheguei no setor de carnes e fiz esse pedido fui surpreendido pela seguinte declaração do açougueiro:

- Só chá? Sem o patinho e o lagarto? Olha, rapaz, é a primeira vez em quase vintes anos como açougueiro que alguém me faz um pedido desses. Eu nem sei se temos autorização pra vender o chã separadamente. lha, você fique onde está, não saia daí, que vou correndinho chamar o gerente. Não sai daí.

Fiquei surpreendido. Afinal, o que havia de tão incomum em pedir um quilo de chã? Enquanto o gerente do armazém não chegava me distraí namorando uma bela peça de picanha que estava pendurada na vitrine. no meio desse flerte chega o tal do gerente. Faz cara de surpreso, chega mudou de cor com o relato do açougueiro sobre o meu pedido, e me respondeu bem assim:

- O senhor me perdôe, mas infelizmente só podemos vender o chã junto com o patinho e o lagarto. São as normas do recinto e não podemos mudar. É uma cláusula pétrea do nosso estatuto. E pode reclamar à vontade. Preferimos perder um cliente do que queimar eternamente no fogo do Inferno.

Não me contive com a audácia. Se ele tivesse simplesmente que não podia por causa da norma, tudo bem. Eu ficaria contrariado, lógico, mas compreenderia. Mas a forma como aquilo foi dito realmente me deixou irado. Saí de lá dirigindo altos palavrões proletários para o tal gerente, e encaminhei-me para o açougue da rua, à distância de um único quarteirão.

Fiquei surpreso ao receber a mesma resposta. Mas o açougueiro pelo menos foi mais gentil ao me responder:

- Oh, meu querido, infelizmente não podemos fazer a venda de uma dessas espécies de carne separadamente. Até porque, que graça teria? Seria como a marmelada sem o queijo, e namoro sem beijo.

Essa estória de namoro e de beijo vindo daquela voz mansa e suave do açougueiro com o cutelo numa mão e o pincel atômico na outra foram a deixa para que eu me retirasse da carniceria. Vai saber onde aqueles versinhos poderiam terminar? Vai saber?

No terceiro lugar para onde fui recebi a mesma resposta, e par não sair de mãos vazias comprei pá e acém. Nos dias seguintes procurei em outros estabelecimentos e nada de poder comprar só o chã. Era sempre chã, patinho e lagarto! Chã, patinho e lagarto. E outra coisa curiosa: sempre anunciados e mencionados nessa mesma ordem. Nunca vi ninguém falar dessas carnes como patinho, chã e lagarto, ou chã, lagarto e patinho. Curioso e pitoresco, não é mesmo?

Lembrou de Emerson, Lake & Palmer, Gessinger, Licks & maltz, Peter, Paul & Mary, Giles, Giles & Fripp, Crosby, Stills & Nash, Earth, Wind & Fire, Blood, Sweat & Tears...

terça-feira, 5 de maio de 2009

sem saber em que bicho vai dar

Teobaldo era novo na empresa, tinha menos de uma semana de casa, mas tinha fixado na sua cabeça aquele velho ditado que diz que o saco do chefe é o corrimão da vida. Assim, nesse pouco tempo de agência ele descobriu, vejam que coisa boa, que o Gerente Geral, o poder máximo do recinto, morava na mesma rua que ele, a poucas casas de distância.

Assim, o que Teobaldo resolveu fazer? Simples: depois de acordar e tomar banho, ele chegava da janela, bem na hora que o Gerentão estava saindo de casa. Então ele prestava atenção na cor da roupa dele e vestia-se com trajes da mesma matiz.

No primeiro dia ninguém reparou. Terno preto e camisa branca, até aí tudo bem. No segundo, terceiros dias ninguém deu muita pelota também, mera coincidência, por que não? Mas chegou uma hora em que a coisa ficou realmente escrachada. E quem resolvesse parar um pouco pra pensar e somar dois com dois logo se lembraria de coisas que Teobaldo falava a torto e a direito em qualquer lugar da agência, na presença de qualquer um de seus colegas de trabalho. Pérolas como essa: "Eu quero é subir de vida, e se pra isso eu tiver que puxar o saco eu puxo mermo, não tô nem aí!"

Maldosamente, alguns de seus colegas de trabalho, ao reparar no efeito "par de jarras" proporcionado por Teobaldo, começaram a levantar suspeitas sobre um affair homo-afetivo entre os dois. Fuxicos pelas costas, é lógico.

Numa dessas manhãs de janela Teobaldo chegou para observar qual a cor da roupa do seu "espelho", na mesma hora cravada em que o "chefinho" sempre saía, e nada. Ele até estranhou: será que o chefe saiu um pouco mais cedo? Mas não era isso, o seu carro continuava estacionado em frente à casa. Resolveu então prestar atenção no movimento da casa, lançando o seu olhar em direção à janela da casa. Não viu seu chefe, mas viu a esposa do mesmo distraidamente se trocando. Isso em si nem chamou tanto a atenção de Teobaldo, pois a esposa do seu chefe estava longe de ser grandes coisas: sequinha, sem graça, sensaborona.

Mas para infelicidade de Teobaldo nem nesse momento o seu olhar se cruzou com o do seu chefe que chegou à janela bem àquele momento. E para infelicidade ainda maior de Teobaldo não teve como disfarçar. E o pior é que nem era uma visão que valesse sequer um décimo da encrenca que ele acabara de arrumar. Sentiu raios a dardejá-lo vindo do seu chefe.

Meu dEUS! O que será que o esperava assim que chegasse à agência? Aliás, valeria a pena pagar pra ver? Tomado por um temor quase irracional, Teobaldo não foi à agência naquele dia. Ficou o dia inteiro em casa relembrando a todo momento aqueles breves segundos do mais puro horror. E assim ele fez no dia seguinte. E no outro. O seu telefone tocava, mas ele não atendia. Tinha medo de que fosse o gerentão querendo uma satisfação sobre aquele mal fadado flerte.

Os dias viraram semanas, meses, e por aí foi. Teobaldo, que sempre zelou muito por uma aparência impecável, bem mauricinho mesmo, deixou-se levar e ficou totalmente desleixado. Não cortou mais o cabelo, deixou a barba crescer ininterruptamente, e depois de vários meses viu que assemelhava bastante àquele cabeludo visionário, considerado o maior sociólogo de todos os tempos.

E bem no espírito da época, Teobaldo saiu de casa apenas com a roupa do corpo, caminhando a esmo, ao sabor dos ventos, até que encontrou outros jovens parecidos com ele, uma verdadeira geração bendita.

Moral da estória?

domingo, 3 de maio de 2009

paiol, ô paiol!

Eram dois meninos (que nunca entraram juntos em um vagão, que fique bem claro isso) que se divertiam nas tardes de sábado sintonizando o seu radinho de pilha cheio de estática nas estações de ondas médias, captando sinais de estações de outros países do mundo.

A coisa começou de forma bem inocente, primeiro captando conversas de rádio amador de pessoas da própria localidade. Depois eles começaram a conseguir captar estaçõs de outras cidades, e até mesmo de outros estados da Federação. Até que começaram a captar de outros países. Começou com alguns países com os quais fazemos fronteira, como Uruguai e Argentina. Foi lá que ouviram Almendra pela primeiríssima vez, e só por isso já valeu a experiência.

E depois começaram a captar sinais de países além do Oceano, até mesmo do Japão e, em especial, da Turquia. Lá escutaram gênios musicais como rkin Koray e Cem Karaka. Como se deleitaram com essa música tão diferente das modinhas de viola que escutavam nos luais de fim-de-semana das suas cercanias...

Certo dia, mexendo daqui e mexendo dali, escutaram uns sons esquisitos. Se alguém pedisse para eles reproduzirem seria impossível. Mesmo eles que tinham um conhecimento musical privilegiado ficaram sem conseguir distinguir quais os instrumentos usados nessas músicas. Ao mesmo tempo não conseguiam tirar da estação ou desligar o rádio. Estavam como que hipnotizados. Já estavam há us 40 minutos sintonizados e a música não acabada. Mas também não era algo repetitivo. Era impossível de se explicar o que era. Ravi Shankar perdia. Van der Graaf Generator perdia. E por aí vai.

Passou-se mais de uma hora e meia e a música continuava, sem dar sinais de que ia acabar. Ficou tão tarde que, mesmo contra a sua vontade, os meninos desligaram o rádio e correram para suas casas, sabendo que a vara de marmelo os esperava.

No dia seguinte tentaram sintonizar de novo a tal rádio, mas não obtiveram êxito. Pegaram seus violões e tentaram reproduzir o que ouviram, mas foi impossível. Mas mesmo sem conseguir reproduzi-la para terceiros, os dois meninos nunca mais esqueceram aquelas estranhas notas que ouviram naquela tarde interiorana, através do seu radinho de ondas curtas.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

obstetra obstruído

Todos estavam à sua volta, super curiosos querendo saber o que ele tinha a dizer. Afinal, esse senhor à nossa frente estava completando nada mais nada menos do que cento e dezesseis anos de idade. Nem sei se esse é um recorde ou não, pouco me importa. O que me importa é que é um fato e tanto para se comemorar.

E o mais incrível é que ele, Philadeppho (escrito assim mesmo, com PH no fi e no fó)estava firme, lúcido, e folgazão e ágil como um meninote, contrariando todas as leis da física. As pessoas ao seu redor o enchiam de perguntam, e a pergunta feita pela minha pessoa talvez o tenha incomodado um pouco, ou até mais do que isso. Perguntei assim:

"Como o senhor conseguiu chegar até esta idade com tanta saúde e disposição? Foi fietiço, magia negra, voodoo, candomblé, umbanda, quimbanda..."

Com um jeito de quem é muito temente a Deus, e benzendo-se um tanto de vezes, Philadelpho respondeu-me:

"Não, meu mais do que jovem, não recorri a nada disso" E fazendo um sorriso típico de garoto propaganda em reclames de TV segurando o produto a venda, contou-me o seu segrede, e doi assim mesmo que ele disse:

"Eu bebo cachaça".

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Amigo imaginário do Equador

Marinheiro, corsário, ao mar.
Conforme a tua preferência.
Os olhos, um filete castanho
por causa da mui forte tempestade.

Estático, impassível, imponente,
desconcertante, ferrenho, combativo,
guerreiro, irascível, perseverante,
adamante, acachapante, espetacular.

Marinar, corsariar, marejar!
Conformar, perseverar!
Olhar, filetar, acastanhar!
Pôr, causar, forçar, tempestear!

Impassível como um imponente totem, nosso marinheiro enfrenta a tudo estático.
Com uma coragem desconcertante ele prova o quanto um homem pode ser ferrenho e combativo!
Nosso guerreiro do mar enfrenta a ira da natureza como o mais perseverante dos representantes da raça humana.
Assim como suas opiniões a respeito de toda e qualquer coisa, lá está ele: adamante, acachapante, proporcionando a todos nós, adoradores de estórias fantásticas, um enredo para lá de espetacular!

terça-feira, 28 de abril de 2009

curtíssima

Cansou-se do nome, achava-o até mesmo constrangedor. O que é até estranho, afinal é um nome tão comum... senão , vejamos: Edson.

Sem dar maiores explicações a ninguém ele pagou a taxa de R$ 5,38 ( mais barato que a regularização de um Certificado de Pessoa Física, vejam vocês...)no cartório mais próximo à sua casa e num piscar de olhos (na verdade foi depois de quase duas horas esperando na fila) ele passou a chamar-se Carlo.

E a confusão na cabeça dos amigos, familiares e colegas de trabalho? Levou uma cara até que todos se acostumassem com o novo nome de Carlo.

domingo, 26 de abril de 2009

www.dunya.tv

Muitos pensam que a vida aqui na Turquia é mole, ficar deitado comendo tâmaras maduras enquanto osu abanado por serviçais, mas vou logo dizendo que não é mole não. Aliás, as tâmaras maduras eu confesso que até como, e sem fazer caretas, até gosto, mas não sou abanado, e muito menos por serviçais.

Para começar, só temos uma emissora de TV e uma emissora de rádio ondas curtas, ambas estatais. Quando passa um jogo de football, por exemplo (que é um desporto do qual não gosto nem um pouco) eu vejo-me obrigado a desligar o televisor. E para isso eu tenho que ir até o telefone público na rua (telefones particulares são um privilégio apenas para as pessoas jurídicas) e pedir para que a telefonista Schooschä entre em contato com a Casa-sede do governo para que ele me dê a autorização para que eu possa desligar o aparelho. Pra ligá-lo devo fazer a mesma operação.

Uma vez ligada a TV, na hora dos comerciais ouso dizer que mais de 90% dos reclames são referentes a instituições financeiras. E como a TV é preto e branca nem assim a gente consegue ver a cor do dinheiro.

Da rádio então, menos ainda tenho para falar. Durante a maior parte do tempo tudo que eles transmitem são as mesmas canções folclóricas desde mil novecentos e vovô ainda com as duas mãos, antes de tê-las cortadas por olhar de soslaio pra uma jovem na rua. Para ouvir meus grandes ídolos locais, como Erkin Koray, Cem Karaca e Baris Manço, tenho que passar por uma verdadeira sabatina até conseguir os discos. Bandas internacionais como os Beatles e os Rolling Stones então...

Vida noturna é algo que simplesmente inexiste aqui em Ankara. Nem o bingo da cachaça a gente tem.

Assinado,

Nassif, moço bonito.

Fora dos títulos

Estava eu um dia lá no meu grupo escolar, no horário do recreio. Levei comigo o meu violão. Procedimento corriqueiro, outros rapazes também o levavam. Não o meu, lógico. Cada um que levasse o seu, oras.

Por um belo acaso do tal do destino estávamos eu e mais dois trutas juntos, tocando algumas músicas do Led Zeppelin. Além de mim estavam também o Adamstor, vulgo Cabrobró, e o Manhães (não me lembro agora qual o seu prenome) batucando um ritmo legal. Chegou um outro rapaz lá da escola que era nosso conhecido de vista. Não se fez de rogado e já veio cantando por cima da nossa sofrível melodia.

Esse rapaz era o pedro Augusto, mais conhecido como Pepe. Era um pouco mais novo do que nós (estávamos no terceiro ano do Científico. Ele, no primeiro), e apesar dos trejeitos meio afeminados, topamos de tocar com ele numa boa. Até porque, pra tocar led Zeppelin isso é até uma vantagem, um quê a mais de semelhança com a banda original.

Começamos então a ensaiar quase todos os dias, depois das aulas. Um dia no quartinho de um, um dia no quartinho de outro. E nos fins-de-semana íamos pra mansão (por ue não?) do nosso baterista, o Manhães. Sim, ele era membro da famosa família Manhães, a das drogarias. Sendo uma banda de jacarepaguá, estávamos mesmo predestinados a tocar covers.

A cada semana a evolução era sensível. Logo estávamos tocando igualzinho aos originais, quiçá superando em alguns momentos. Até mesmo em Kashmir, uma das músicas mais famosas da banda, mas uma péssima sugestão para nome de recinto para shows de rock.

Faltava agora escolher um nome para a tal banda. algum iluminado veio com a grande sacada, não me lembro quem agora. Chegou e proferiu tais palavras:

"Que tal a gente chamar a banda de Areia mijada?"

"Como é que é??? Mas que safadeza, que pouca vergonha!! Que absurdo!! Mas por que esse nome?"

"Ué, não tem ou tinha aquela banda cover dos Beatles, o Terra Molhada? Lembrei-me desse nome e pensei em Areia Mijada, que é também uma homenagem à face do Robert Plant dos dias atuais"

Isso sem falar na voz de velho, claro.

sábado, 25 de abril de 2009

filosofia ordinária

Sinto-me devidamente habilitado para tratar deste assunto aqui agora, enquanto autoridade máxima no que diz respeito ao bome velho rock and roll.

As pessoas me perguntam: por que insistir em reavivar a chama do rock and roll setentista? Vale a pena tocá-lo de forma cuspida e escarrada em pleno ano de 2009, mesmo correndo o risco de que as músicas fiquem muito parecidas entre si? e eu respondo que com certeza vale. E a quem indaga-me sobre esse assunto faço questão de explicar.

Foi durante os mil novecentos e setentas (como dizem os norte-americanos), especialmente na sua primeira metade (o período englobado entre primeiro de janeiro de mil novecentos e setenta e um e trinta e um de dezembro de mil novecentos e setenta e cinco) que o rock and roll chegou aos seus extremos no que tem de mais importante. Por exemplo, foi nesse período que o fanfarrão foi mais fanfarrão, o pesado foi mais pesado e o sério foi mais sério. Não vamos confundir seriedade com a melancolia e a pose de "Ah, sou mais triste até mesmo do que uma cabra!" do chamado grunge dos mil novecentos e noventas, e que deixaram filhotes e defensores ferrenhos até os dias de hoje, acredite se quiser.

Afinal, como bem disse um amigo meu: se for para espelhar-se e/ou copiar o som de uma década, que seja da década de setenta.

Mas, fazer o que, né? Tem gente que não gosta nem mesmo de Pink Floyd. Tem gente que despreza e faz pouco caso de bastiões como AC/DC e Slade. Tem gente que acha ruim a sonoridade das baterias nos discos gravados nesse período (acredite se quiser). E, pra fechar com chave de ouro, tem gente que prefere o Iron Maiden com o Bruce Dickinson nos vocais principais ao Jairo Almeida com o Paul D'Ianno. E os mais radicais que preferem a fase com o Blaize Balley.

terça-feira, 21 de abril de 2009

dodô do peitinho

Não cresci em Gotham City, mas aos quinze anos eu ia e voltava sozinho da Tijuca à nite, onde eu fiz o meu Científico, como era chamado na época.

Chegava eu em casa geralmente entre onze e trinta e meia-noite. Era chegar em casa, servir-me da refeição norturna ora fria ora requentada pela minha pessoa (quando eu estava com um pouco mais de disposição) e sentar-me à frente do televisor cheio de estática (era pré-TV a cabo) para ver o Jô Soares Onze e Meia no Sistema Brasileiro de Televisão.

Olhando agora para trás, com a reconfortante distância do tempo, fico a questionar o que poderia me causar maior desgosto: chegar em casa tão tarde, comer a comida requentada ou bóia fria, ou então deparar-me com José Eugênio Soares na TV cheia de estática e de estatísticas.

Só seria eu livre se saísse de Gotham City, caso eu tivesse nascido e sido criado lá?

soleiras

É a temporada do Leão. O Leão tá na moda, e todo mundo tá com medo do Leão.

E eu não estou a falar do Leão metrossexual, muito menos do Leão da Metro Goldwin Meyer. Estou a falar sobre o Leão financeiro. Aquele do qual o George harrison não gostava nem um pouco.

Esse Leão surpreender-se-ia com João Monetário, ao saber que esse chega mais rápido saindo da Tijuca para jacarepaguá quando vai de 455 até o bairro de Goldwin Meyer e de lá pega o 691 do que quando anda até Monday Square e pega o famigerado 601.

domingo, 19 de abril de 2009

zerando

A ação aconteceu em uma feirinha de subúrbio. Sim, foi isso.

Primeiro chegou um tecladista. O povo começou a se juntar, curioso. Provavelmente, pensariam eles, o tal tecladista puxaria um forrozinho acompanhado de uma batidinha eletrônica xinfrim do teclado.

O tecladista começa então a tocar. E era uma música estranha, complicada, ninguém dali nunca tinha ouvido nada assim. Mas acharam bonito. Alguns até arriscaram algumas palminhas, tentando acompanhar.

E foi assim por uns 3 minutos que pareciam uma eternidade. Uma maquininha de fumaça bem qualquer nota deu umas baforadas no chão, e de repente, por detrás de um biombo, sai um sujeito magrinho, careca, todo de preto, se sacolejando. Parecia que ele tinha acabado de sair do coiffeur onde trabalha pra ir lá.

De repente ele abre a boca e canta "Love me Tender", do velho Élvio. Os mais antigos, que conheciam essa canção popular, ficaram confabulando: mas que coisa. Cadê a roupa, o cabelo de Élvio? Pelo menos a voz é idêntica! Se eu fechar os olhos será como se o velho Élvio estivesse do meu lado cantando na minha presença! E sem precisar de tocar atabaques, beber cachaça, matar bodes e fumar cachimbos e charutos para trazê-lo ao mundo dos vivos!

Élvio e seu amigo marcos, o tecladista tocaram por quase uma hora, e o povo ahou sensacional. Tinha um sujeito de camisa vermelha, inclusive, que vibrava como se estivesse a dar a vida pelo novo/velho ídolo. E o resto do povo dançava animadamente. Os que não conheciam as músicas batiam palmas para acompanhar. Mas todos com muita emoção e alegria.

Quando terminou o show o dublê de Élvio foi abordado por uma senhorinha, que provavelmente já era adulta quando do sucesso original do velho Élvio. Ela vei elogiar o dublê, dizendo que a sua dublagem do velho Élvio estava perfeita. O dublée, achando graça e ao mesmo tempo se sentindo lisonjeado pela semelhança, disse que na verdade ele não estava dublando, que era a voz dele. Para provar ele deu uma palhinha de Bossanova, e a senhorinha se desfez em lágrimas de emoção, como se estivesse cara a cara com o próprio Renato Russo, quiçá o Cazuza.

E assim o nosso amigo dublée do velho Élvio e seu amigo tecladista Marcos recolheram as suas coisas, guardaram no seu Corsa e foram para o seu próximo show, em um circo mambembe em uma cidade do interior próxima à capital. E adivinhem quem estaria nesse show vibrando com emoção? Raimundo Nonato? Não, aquele mesmo sujeito da camisa vermelha.

sábado, 18 de abril de 2009

teclado renitente

No campo das probabilidades é assim:

Se ele tem mais de 3 metros e aponta pra você, então ele está em São Francisco no ano de 1968.

Se ele não está apontando pra você e nem tem a altura anteriormente mencionada, então ele é apenas um rapaz tão tonto em Toronto no ano de 1974, lançando o primeiro disco do seu power trio, com fortes influências de led Zeppelin e Cream.

Se ele tem 3 metros de altura mas não está apontando pra você, ele é um turista perdido nos Estados Unidos e que pergunta para todos que passam: "Afinal, onde neste mundo de meu deus fica San Diego, California?"

Se ele tem um pouco menos de (hum metro e oitenta e está apontando pra você, então das duas uma:

a) se estiver de terno branco e atravessando a rua com as duas mãos enfiadas no bolso da calça, então ele é um dos maiores ídolos de todos os tempos e foi assassinado a tiros no final de 1980, fechando de forma trágica a década de 1970's;

b) se ele estiver com as duas mãos para cima, e balançando enquanto pula no ar, então ele se tornou o estereótipo de baterista e vocalista ao mesmo tempo, e impacientou demagogos em entrevistas quando o compararam ao tal sujeitinho.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

cinto de couro trançado , senhor, não é uma carta de amor

Siribango nasceu e foi criado em Salvador, na bahia. Fala isso com muito orgulho, e diz para toda e qualquer pessoa que é grande a sua habilidade em dar estrelas no ar. Cruz em credo , eu tenho medo de Siribango!

Bem mais tranqüilo é Edgard, o seu irmão gêmeo que mora em Maceió. Nem parecem irmãos, a não ser pela extrema semelhança física. Edgard preza muito mais os seus dotes intelectuais, que não são poucos. Quando os professores orgulhosos diziam estar diante de um novo Rui Barbosa eles não estavam sendo irônicos ou cínicos. O que quer dizer que, ao contrário do que diz a canção popular, por trás dessas linhas há algum resquício de verdade. Verdade bem verdadeira.

Faz pelo menos uns bons dez anos que esses dois irmãos não se encontram. Siribango, muito mais explosivo emocionalmente, às vezes desata em lágrimas ao lembrar de seu querido irmão, e em meio a tal pranto não para de repetir o quanto sente saudade de Edgard. Já Edgard, com toda a sua fleugma britânica (apesar de ser soteropolitano), diz que tem grande estima e afeto pelo seu irmão, mas que é indubitável que sua paz de espírito fica bem menos abalada quando o seu irmão poucos segundos mais novo está a uma distãncia segura. Em seguida emite um ligeiro suspiro e complementa com um "Ah, esse menino..."

quinta-feira, 16 de abril de 2009

o Sol, o rolo e o môcho

O texto de hoje veio de uma carta do leitor Daniel Silveira, de São São Paulo (dá-lhe Tom Zé). Vamos falar sobre a cordialidade no rock carioca.

Ao invés de enveredar em longas e enfadonhas descrições sobre tal assunto (que nem tem muito o que render, na verdade, mais pela falta de rock do que pela falta de cordialidade), vamos pôr aí abaixo falas que escutamos aqui e ali, em váias variáveis:

"Ah, a banda tal é uma merda, mas o baixista da banda arma uns shows lá no Bar do Zezinho Orelha".

"As bandas tem que se unir, independente do estilo musical, cadê a união do Underground? A cena?"

Cena de cinema? Sena acumulada? A Teimosinha? Pôe na conta, mexe, mexe, que o seu juro é bem maior?

Teje dito? Tô com mais dúvidas agora do que antes de começar a escrever esse texto, que, aliás, ô coisinha micha...

quarta-feira, 15 de abril de 2009

marulhos

Dizia assim a tabuleta:

"Quer aprender todas as notas musicas gastando pouquíssimas notas monetárias? Venha agora mesmo para o curso de música do Dodô do Quartinho. No quartinho de Dodô você vai aprender a ser um musicista completo, e não apenas um mero tocador de guitarra elétrica!

Você vai aprender a tocar o que realmente importa: bossa nova, chorinho, muito Roberto Carlos e afins!

Venha agora mesmo aprender música com esse professor que é uma coça!

Dodô do Quartinho!"

terça-feira, 14 de abril de 2009

topo da geada

Se você é um autêntico colecionador de discos, especialmente os de vinil, sabe que não há nada como escutá-los em suas edições originais, os discos da época mesmo. E quando falamos em época, automaticamente pensamos em anos 60, o que nos remete aos reis desse período, os Beatles.

Nas primeiras vezes que ouvi vinis dos Beatles da época reparei logo umas ligeiras crepitações, uns estalados aqui e ali. Imaginei logo que isso se devesse à ação do tempo. E realmente, observando o disco, podíamos ver algumas marcas nele, uma espécie de Lúcio Mauro mesmo.

Mas, alguns anos depois, tive acesso a algo completamente diferente. Uma edição do Rubber Soul, de uma tiragem lançada poucos meses depois de seu lançamento, e com o vinil pretinho, pretinho, sem nenhuma marca. Parecia até que o disco tinha sido fabricado ontem. Decerto que o dono era homossexual de tão cuidadoso. Mas, voltemos ao disco.

Botei logo o tal disco na vitrola, e qual não foi a minha surpresa ao ver que as mesmas crepitações estavam lá? Fiquei intrigado. Mas nada que uma boa pesquisa não esclarecesse. Depois de muito pesquisar, fiquei sabendo qual era a origem daquele crepitar. Devido a um problema de isolamento de som no estúdio 1 da Abbey Road, vazou o som de George Martin fritando umas sardinhas na cozinha ao lado do estúdio, durante as gravações do primeiro LP do quarteto. Eles acharam tão intrigante e gear (segundo os próprios) que resolveram deixar a porta do estúdio ligeiramente aberta nas gravações seguintes, com George martin novamente fritando sardinhas ao longo desse processo.

Daí para outras bandas copiarem a idéia foi um pulo. E haja peixe, e haja Pink Floyd.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

pós-socráticos

Bom, então faça para nós um breve relato. Quem são vocês, como são...

"Certo. O que eu poderia dizer? Somos garotos mimados da Zona Sul que tivemos e ainda temos tudo o que queremos com um simples estalar de dedos. Quando éramos mais novinhos nossos papais nos traziam e levavam dos shows. Agora, como acabamos de completar nossa maioridade, eles nos deram nossos próprios carros."

Muito esclarecedor, e muito edificante também. Agora fale sobre a música de vocês.

" Bom, quando nós começamos, no ano retrasado, éramos uma banda de hardcore melódico, que era a grande coqueluche do momento. Mas, sabe com é, amadurecemos, descobrimos os Beatles e os Rolling Stones, e agora somos paga pau dos anos sessenta, somos psicodélicos da malhação. into que daqui a duas semanas, no máximo três, sofreremos mais uma guinada no nosso som, e começaremos a tocar algo completamente diferente, um cruzamento de glam rock com Frans Ferdinand e Kaiser Chiefs."

Nossa, totalmente surpreendente, hein? (Bocejo) E qual é o grande sonho, ambição de vocês?

"Ah, temos vários. Sendo que o nosso projeto mais ousado é que o nosso produtor finalmente consiga que a gente participe dos comerciais de uma marca de refrigerantes, não vou dizer qual é agora, para não estragar a surpresa. Além disso tem um novo tênis da Adida, super ultra mega radical, que estamos só esperando sair a nossa mesada para comprarmos.

domingo, 12 de abril de 2009

berel

Domingo de páscoa, dia de alegria e de lembrar do nosso senhor, e que tais na quitanda.
E dia de chocolate também, por que não?
O mais usual nesse dia são ovos de chocolate, caixas de bombom, e também aqueles chocolates em forma de coelho.
Pois bem...

Nesse ano Edson, o corretor de seguros, ganhou um presente diferente de sua amada, Yolanda. Quer dizer, o presente em si era fácil de se imaginar o que fosse: chocolate. O inusitado toque de elegância deixo para a quarta linha deste mesmo parágrafo: era na verdade um chocolate em forma de um gurizinho sentado a uma mesinha. O regalo vinha em uma caixa, e dividido em duas partes. Em uma das divisórias vinha o gurizinho de chocolate ao leite, e na outra vinha a mesinha à qual o guri se apoiava.

emocionado com o regalo, Edson comentou:

- Poxa, que coisa mais linda! Mereço eu tanto? Será? Dá até pena de comer esse lindo regalo!

- Ah! Que bobagem, amor! - Disse Yolanda.

- Eternizarei este regalo, tal qual se empalha um lobo guará. Sabe o que farei? Cobri-lo-ei de gesso, contornando perfeitamente as suas formas, e depois pintarei com muito esmero, e botarei essa verdadeira obra de arte, num lugar onde todos poderão vê-lo, por vários e vários anos!

Yolanda, com um sorriso amarelo no rosto, não sabia se fica orgulhosa, desgostosa, ou se chama o Hospício.

sábado, 11 de abril de 2009

Arrestos

Rogério Barretto, se estivesse no meu lugar, iria pegar mais uma xícara de chá e dizer: vamos rir, sim, sim, sim, sim, sim, sim.

Falo isso sem medo de errar, pois sou o dono da verdade absoluta. Eu nunca acho, eu sempre estou mais do que certo. Nem que para isso eu tenha que falar na terceira pessoa. Invariavelmente com voz gutural. Ou seria cultural, nesse caso?

Dito isso, é bom ressaltar que eu não sou o Rogério Barretto, que outrora foi o gênio por trás do Pink Floyd. Sendo assim, não rirei. Falarei aqui sobre a modernidade.

Era Moderna, como nós (pelo menos eu) aprendemos na nossa época de ginásio, foi o período da História marcado pelas grandes descobertas territoriais, as chamadas expansões ultramarinas. Erroneamente, muitas pessoas se referem aos nossos dias como a Era Moderna, ou mesmo usando o igualmente desgastado rótulo de Tempos Modernos, sem desmerecer aqui o genial Chaplin.

Segundo os mesmos livros de História, nossos dias atuais são chamados de Era ou Idade Contemporânea. Mas bota aí mais de vinte anos desde que eu aprendi as coisas dessa forma. Será que ainda estamos hoje nessa mesma Era Contemporânea? Ou será que agora estaríamos em uma, digamos, Era Pra Lá de Contemporânea? Vai saber... Me ajuda aí, Robson! Sérgio magalhães!

Na nossa vidinha ordinária, corriqueira, xinfrim, marota, cheia da insignificância tão cantada por Eddie Veder, os significados de moderno e homossexual se confundem. Corre-se até o risco de que eu seja inocentemente enquadrado nessa categoria. Pera lá, amizade, que papo é esse? Só porque eu escrevo textos com um teor um pouco mais extravagante já vens me chamando de moderninho (esse inho já entrega logo o jogo das tuas intenções)? Comigo não é assim não! Eu monto na lambreta, monto na Agrale! Esse Agrale por si só já é um atestado da minha não-modernice. Modernidade ainda vá lá, agora modernice pela modernice é algo que eu dispenso, e não quero que me associem a isso.

Não compactuo.

Vade Mecum, Satanaez!

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Ravel 2000

Eram dois meninos. Olhando de longe poderíamos até dizer que eram os tais dos meninos no vagão, da canção de Jorge Vercilo. Aquele do Homem Aranha.

Na verdade eles nem era tão meninos assim. Ambos já estavam bem entrados nos vinte anos, beirando os trinta, inclusive. Eram simplesmente inseparáveis. Ond eestavam um, era impossível não dar de cara com o outro. Semblantes que chega se mesclavam. Tipo John Lennon e Paul McCartney, feijão e arroz, goiabada e queijo prato, manga Tommy e uva Thompson.

Dia desses, só para variar, os dois amigos estavam juntos, na casa de um deles. Estavam eles dois e mais o pai de um deles. Nem vale dizer de qual deles era a casa e o pai, isso não vai interferir em nada em nossa narrativa. Além do que, se eu nem mesmo sei o nome dos dois, quanto mais saber de quem era a casa, né?

Voltando à estória:

O pai anteriormente citado disse algo engraçado e os dois guris puseram-se a rir com gosto. O pai parou, observou, e depois comentou:

- Caramba, pasmei-me. Com a conviv~encia pra lá de acirrada vocês ficaram muito parecidos. Até as suas risadas em uníssomo são indistinguíveis.

Os dois meninos do vagão pararam meditabundos, sem saber se aquilo era um elogio ou um veto. E foi exatamente isso o que perguntaram, os dois juntos. E receberam essa resposta:

- Acho bonita essa amiga que de grega não tem nada. Mas agora vocês realmente me assustaram! Não até que até as falas do grande Teatro da vida vocês reproduzem juntos? Olha, vamos fazer o seguinte. Acomodem-se, assistam um pouco do programa favorito de vocês na TV. Mas, muito importante, não saiam daí!

E foi correndo pro seu quarto pro telefone, chamar um padre.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

A melodia dos feijões gigantes

Foi assim o discurso naquela noite ilustre:

"Em primeiro lugar, gostaria de agradecer do fundo do meu coração a todos os presentes. Seria mais correto eu dizer que nem preciso ir ao fundo do meu coração para agradecê-los , já que na data de hoje ele está abarrotadinho de grandes felicidades!

Com o lançamente deste meu primeiro livro pela RGE estou mais perto de ser um homem em toda a sua plenitude, seguindo aqueles velhos dizeres. Senão, vejamos:

Escrevi um livro, e a prova irrefutável desse fato é esta noite de hoje.

Se não me falha a memória, quando eu tinha lá os meus sete, oito anos eu fiz um ligeiro cultivo de vegetais. Grãos de feijão em um copo, com algodões embebidos em água fresca, dentro de um copinho plástico. Isso conta?

Filhos, pelo menos até o momento ainda não tive. Quanto a tê-los no futuro... quem sabe não é?

Tinha também uma outra coisa que você tinha que fazer pelo menos 3 vezes na vida, para se tornar um homem de verdade... infelizmente a minha memória me trai, e eu definitivamente não consigo me lembrar.

Prometo que, se ao longo da noite eu me lembrar do que se trata, virei corendo ao microfone para dizer, tal qual as colegas de auditório do Senor Abravanel naquela parte d seu programa Qual é a Musica.

De qualquer forma, reitero aqui os meus agradecimentos a todos. Vocês trazem a boa estrela da sorte estampada às suas faces!"

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Drenagem e demanda

Um amigo chega para o outro, no meio de uma discussão sobre música rock e diz:

- Ah, sim, eu adoro o Led Zeppelin, mas o que eu amo mesmo é Tool!

- Você quer dizer como amigo, ou no sentido proibido de amor entre pessoas do mesmo sexo?

- Como é que é?

- Ué, você acaba de dizer que me ama. Fico até emocionado pela consideração, mas infelizmente terei que cortar o seu barato, pois o meu negócio mesmo é mulheres do sexo feminino. Desculpa, cara. Mas que continuemos sendo os mesmos bons amigos de sempre, certo?

- Não , cara. Que absurdo! Eu também só gosto de homem pra ser amigo, e nada mais. Eu tô falando da banda!

- Ah, sim! Eu também acho foda o Tull! Principalmente os 4 primeiros discos, até o Aqualung. Se bem que o War child é um disco mais do que interessante. Eles deram uma urbanizada no seu som nesse disco, mas sem perder a sua grande qualidade musical.

Nessa hora chega na sala o pai do rapaz que adora o Tool. Cumprimenta o amigo do seu filho e, empolgado, fala com propriedade sobre a banda inglesa:

- Então você e um fã ardoroso do Jethro Tull, hein? Acompanhei a banda com emoção até o lançamento do A, em 1980. Eu tinha todos os discos. Mas, sei lá, enjoei, sabe? Os trabalhos que eles lançaram de Bradsword and the Beast em diante, e outras circunstâncias da minha vida, fizeram com que eu ficasse um bocado desgostoso e vendesse esses discos por preços irrisórios para aquele sebo que tinha ali na Pau-Ferro, o Papel & Vinil. Hoje em dia eu sou fanzaço do Slash.

- Poxa, pai. Que decadência, hein? De Martin Lancelot Barre pra Saul Hudson o seu critério de avaliação caiu muito , hein? Daqui a pouco você vai me dizer que vai lá nas lojas de disco da galeria da Saenz Pena procurar discos do Zebra!

- E por que não?

- E por que sim?

terça-feira, 7 de abril de 2009

10.000 pés

Naquela época tínhamos apenas dois televisores em casa. Um ficava na sala, que era o aparelho pra "batição", pra toda hora. Uma pequeno televisor "pretibranco", como diriam alguns. No quarto dos meus pais ficava o bom e velho televisor a cores e valvulado. Uma caixa imensa (pelo menos para os meus olhos de petiz) de madeira, que levava o que parecia meia eternidade até que finalmente aparecesse a imagem no seu tubo. Só tinhamos direito de usar esse aparelho em grandes ocasiões, como filmes do Superman e os Vesperais de Sábado da Rede Manchete.

Não era raro uma coisa me intrigar. Vez por outra eu tinha a estranha impressão de que o televisor da nossa sala, o "pretibranco", ficava com uma ou outra mesclados às suas cores básicas de praxe. Às vezes um pouco de vermelho, outras alguns sombreados de azul. Ter que ver todos os meus programas favoritos (que não eram poucos , acreditem) sempre assim, sem as suas verdadeiras cores, era uma verdadeira chateação para mim. Imaginem uma pobre criança com pouco mais de meia dúzia de primaveras, tendo que vibrar e torcer pelos seus heróis sem nem mesmo ter certeza das cores das roupas que eles estão a usar, por exemplo.

Pouco me importaria se a televisão National da casa dos outros estava ou não virando Panasonic! O que eu queria mesmo, do fundo do meu pequeno coração, era que o nosso aparelho televisor virasse um aparelho a cores...

domingo, 5 de abril de 2009

Ad Eternum

Ah, que cada hora sem ela para mim equivale a um dia inteiro.
E cada mancada que dou retumba em minha cabeça como uma catátrofe.
Amor em grande quantidade, amor para sempre.
Que signifique a vida para mim, até o fim.

Ah, age de forma eficaz, transformando todo o resto em coisa nenhuma.
Traz a paz para o meu coração aflita, significando tudo para mim.
Se te dou trabalho fazendo ligar o seu PC, conectar, e coisa e tal,
peço desculpas, eu não conseguiria dormir sem que antes tivesses lido isso.

Veja bem se é GE

Hoje em dia o bom é ser desligado. Andar meio desligado, que seja. Quanto mais desligado melhor. Quero dizer no sentido de ligar aparelhos elétricos, acender lâmpadas. Fazer isso o mínimo possível.

O planeta agradece.

copos sujos

E qual não foi a surpresa da Caíque quando tocam a sua campainha? Encontra o seu amigo, vulgo Juninho. Até aí nada demais, afinal esses dois estavam sempre se encontrando. O toque de elegância eu deixo para este momento ( que ainda não é o fim, para onde geralmente deixamos os toques de elegância). Juninho não estava sozinho. Escondida agachandinha no lado de fora do muro da casa de Caíque estava Carlota Valdez.

Ah, sim, Carlota Valdez, perfeitamente... mas, afinal, quem seria Carlota Valdez?

Carlota valdez não é só o nome de uma canção popular de uma banda de Seattle chamada Harvey Danger. É também o nome da primeira namoradinha de Caíque. A guria em questão acabou mal falada entre os familiares de Caíque depois que ela se mudou para a Islândia e antes que vocô possa falar "lápis" ela arrumou um namoradinho por lá. Vai saber se esse "um" aqui tem a qualidade de numeral cardinal ou de artigo indefinido, no sentido de, digamos, um e outro.

Mas Caíque pouco se importou. Como bom jovem do século XXI, ele acha esses leros de possessão de quem se ama e de ciúmes uma transa pra lá de draculesca. E continuou amando Carlota Valdez. Tanto é que, tal qual um boneco, abriu um sorriso de orelha a orelha, expondo todo o seu teclado, logo que reencontrou a tal guria. Apesar de todo esse papelão, de ela aparecer escondida no muro de Caíque, e ainda mais acompanhada de Juninho...

Ainda bem que Caíque não parou para somar dois mais dois.

Baquetas malandras

Será a explosão hormonal da adolescência, assim como a fúria típica dessa idade, bem recompensada? Vejamos o "causo" abaixo. Para não comprometer nenhuma das partes envolvidas usaremos "nomes de guerra".

Caqui era um adolescente com todo o fulgor da juventude. uma exploasão ambulante, poderíamos dizer. Apaixonou-se pelas curvas de Flávia Verônica, que segundo Caqui eram mais do que bem desenvolvidas para a sua idade. Mas é lógico que ele não usou essas expressões para defini-la. Foi de "filezão" pra baixo, E bota baixo nisso...

É importante ressaltar que Flávia Verônica é amiga inseparável da irmã de Caqui, Ollie Via - que, ouso dizer, é uma verdadeira boneca, nos melhores moldes pernambucanos. Vale falar esse fato pois foi através de Ollie Via que Caqui soube de algo que o deixou deveras decepcionado, mais até mesmo do que Raul Seixas naquela sua canção popular. Com Corcel 73 e tudo.

Dia desses Caqui chegou em casa falando alto para quem quisesse ouvir, exaltando os atributos físicos de Flávia Verônita. Mas logo Ollie Via foi jogando um balde de água geladíssima nas fantasias de Caqui, ao revelar que, por debaixo da blusa, por dentro de seu soutien, Flávia Verônica usava, acreditem vocês, meias, para que ficasse mais vistosa perante os guris.

Mas como Caqui é um espírito superior, não deixou com que essa estranha notícia abalasse os seus nobres (até que ponto?) sentimentos para com Flávia Verônica.

Ficamos por aqui. Não vamos acompanhar a vida dessa gente em idade de crescimento, pois não se trata de um folhetim.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O fino da capilaridade circular

DEPOIS DE TANTOS ANOS DE EVOLUÇÃO INDUSTRIAL E TECNOLÓGICA... ERA SÓ O QUE FALTAVA. AGORA AS MÁQUINAS, EM ESPECIAL OS COMPUTADORES, RESOLVERAM ADQUIRIR VONTADE PRÓPRIA! ASSIM NÃO SE PODE VIVER!

PRIMEIRO FORAM AS MULHERES. ALGUÉM BOTOU NAS CABEÇAS DELAS (REALIZEM, ELAS NUNCA CHEGARIAM A UMA CONCLUSÃO DESSAS SOZINHAS, NEM QUE LEVASSEM GERAÇÕES INTEIRAS CONCATENANDO COM ESSES PENSAMENTOS) QUE ELAS NÃO SÓ PODERIAM COMO DEVERIAM VOTAR, TRABALHAR FORA DE CASA, E ATÉ MESMO EXIGIR O DESQUITE CASO SE SENTISSEM SUFOCADAS NO MATRIMÔNIO. AH, SE EU PEGO O RESPONSÁVEL POR ESSE MOTIM...

AS MÁQUINAS DEVERIAM SE DAR POR SATISFEITAS PELO FATO DE NÃO EXIGIRMOS DELAS CERTOS SERVIÇOS QUE DELEGAMOS ÀS MULHERES, EM UM GESTO SOBERANO DE CARIDADE POR ESSAS POBRES COITADAS, COMO, POR EXEMPLO, LAVAR ROUPAS NO TANQUE DE PEDRA.

E QUER SABER POR QUE LIVRAMOS A CARA (SIC) DAS MÁQUINAS EM RELAÇÃO A ISSO? PELO ÓBVIO ULULANTE FACTO DE QUE , SE ELAS SE EMPENHASSEM NESSA TAREFA, CERTAMENTE ENFERRUJARIAM OU DARIAM CURTO CIRCUITO EM POUQUÍSSIMO TEMPO.

(o trecho acima foi extraído do livro "Calça Corsário", do escritor húngaro Franziescque Buartzwmann-Rollanz. Tradução livre de Maitê Proença)

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Dizer o quê? Pra quem? Quando? E por quê?

"E você ousa pensar que eu me
darei ao trabalho de descer daqui do
meu Monte Olimpo, abrir mão de
minha fleugma, para trocar vocábulos
com a sua pessoa. Tem graça, hein? Mas
nem que, após eu fazer isso, eu fosse conduzi -
do de volta para cá sobre asas de um
Albatroz, ou então de um abetouro"
(Marcos mena)

Rogério d'Águas, à época recém chegado de Coimbra, estava repousado tranqüilamente na praia de algum daqueles bairros da Zona Sul carioca (sempre...), tocando um fado no seu violão, quando chega um grupo de jovens com aquele jeito de descolados. Entre eles estava um rapaz que dizia fazer e acontecer. Comeu fulana, compôs tal música que tal cantor popular cantava na rádio, em programa patrocinado pelas balas Fruna... Nelsinho era o seu nome.

Dentre esse grupo de jovens havia também um jovem rapaz de traços finos, rosto querubínico, jeito muito tímido, e grandes olhos cor de ardósia. Francesco Buarche Jeronimous Bosch III.

Nelsinho, escandaloso como ele só, praticamente implorou para que Rogério d'Águas emprestasse por breves minutos a sua usina de belas melodias para que o jovem rapaz paulistano desse uma rápida amostra do seu talento. Rogério d'Águas , a fins de se enturmar nessa turma aparentemente tão bacana, aceitou o pedido.

A voz do menino era um suplício, é verdade. Mas por alguma razão, aquela montoeira de rimas de "ão" com "ão" teve como resultado a atração de várias moças, uma mais bonita que a outra, que pareciam brotar do chão. Foi a gota d' água. E por falar nisso...

Rogério d'Águas, muito irritado, pegou de volta o seu Del Vecchio, praguejou até não poder mais, e sentou-se ao lado do jovem Parreira, que comia uvas.

terça-feira, 31 de março de 2009

Otaviano, Otaviano...

O personagem citado estava deleitando-se na praia de Copacabana (na época em que isso constituía uma forma saudável de lazer). Tinha acabado de dar o seu depoimento a uma equipe de reportagem da Rede manchete, que perguntava qual era a sua opinião sobre a dita "invasão" àquela praia feita pelos moradores de bairros menos favorecidos.

Ele estufou o peito e, como um autêntico garotão nascido e criado na Zona Sul carioca, disse que cada um tem que se divertir no seu próprio bairro, ao invés de invadir o território alheio. Falou assim mesmo, usando essas mesmas expressões, tal qual um guepardo na Savana Africana.

O amigo que estava ao seu lado preferiu não emitir uma opinião sobre o assunto, a fim de não se indispor com Otaviano e criar um clima ruim diante das câmeras. Mas foi só a equipe se despedir e ganhar uma certa distância dos dois que Pedro, o amigo de Otaviano, lhe chamou a atenção pelo teor altamente preconceituoso do comentário de Otaviano que ficou para a posteridade. Ao qual Otaviano tevea audácia de retrucar:

"Ah, Pepê, mas convenhamos. Pagamos um IPTU altíssimo, aluguel caríssimo, damos o nosso suor para manter um padrão elevado de vida e poder desfrutar dessas belezas naturais, e vem uma cambada que pega não sei quantos trens e uma miríade de ônibus pra bagunçar a nossa praia. Veja bem, eu reconheço que todos têm o direito de se divertir, mas cada um no seu espaço, morou? Misturar pra quê? Nem a gente e nem eles ganham nada com isso. Eles que fiquem lá na praia de Ramos deles, não é mesmo?

Pedro, sujeito de natureza habitualmente tímida e submissa, discordava com cada palavra proferida por Otaviano, mas, mais uma vez, preferiu abster-se de qualquer comentário, para não se zangar com o amigo. Mas, de si para si, formulava pensamentos da seguinte espécie: "Mas como pode ser idiota quando quer, esse meu amigo Otaviano. Às vezes eu me pergunto por que ainda perco o meu tempo andando cm gente assim".

Poucos segundos após essas declarações polemizantes de Otaviano, ele soltou mais uma pérola, ao olhar em direção à rua: "Lá vem mais uma leva daqueles ônibus suburbanos, esses porta-mulambo." Mas logo engoliu em seco, quando viu que de um desses ônibus desceu a sua esposa, que veio , junto com os 4 filhos pequenos, correndo em sua direção. Pedro riu gostoso, como criança em dia de São Cosme & Damião, e dessa vez não conseguiu ficar calado.

"Acho que os seus mulambinhos vieram te buscar pra você voltar pra tua praia de Ramos, ó Justo Veríssimo!"

segunda-feira, 30 de março de 2009

emocionados

A praga no livro.

Dizeres sinistros na primeira e na última página do livro.

O meu normal é rir desse tipo de coisas, incrédulo que sou. Mas dessa vez pegaram pesado. Prefiro não citar nomes. Digamos apenas que se trata de uma pessoa do sexo feminino, cujas iniciais são VB.

Medinho, sabe?

O que será que tanto atormentou essa cabecinha, para fazê-la escrever aqui nas páginas desse livro? Palavras que aos meus olhos portam-se como um pedido de socorro, aos prantos. Será que isso, seja o que fôr, ainda aflige essa pobre atormentada? E mais, será que ela ainda está entre nós? Depois de quinze anos, segundo a data que aparece nos seus escritos?

Fico até em dúvida sobre o que fazer com esse livro. Apagar com uma borracha Mercur? Devolver o livro no sebo onde o comprei? Não acho que seja uma boa idéia essa segunda opção. Afinal foi uma pechincha. Honoré de Balzac por esse preço, precinho?

Aliás, será que essa urucubaca montezúmica interferiu no preço do livro? Num país católico apostólico "Romântico" como o nosso, nunca se sabe, né?

domingo, 29 de março de 2009

Consolação das siderúrgicas

E nunca mais eu a encontrei. Uma verdadeira pena...

Ela me viu a folhear o libreto do compact disc do Chic Bouarch de Stael, grande baluarte da música húngara. Ela sentou-se ao meu lado no ônibus e demonstrou estar surpresa por eu ser um apreciador da sua música. Disse ser uma entusiasta dos embalos jazzisticos. Fui sincero para com ela. Disse que também apreciava, mas que não era ( e até hoje não o sou) um fanático nem sequer um profundo conhecedor. E assim prosseguimos a nossa curta porém agradável conversa.

Ela já foi logo entregando as suas credenciais. Uma das primeiras coisas que falou foi que não gostava de samba. Essa informação agiu como uma verdadeira rajada de luz em meu coração. Não podia ser melhor. Linda, apreciadora de boa música, e sem aquelas conversas de raiz disso ou daquilo. O único porém foi o fato de ela não dar muita pelota para o nosso velho e mui querido rock and roll. Gostava de Beatles, mas nada que lhe provocasse muito alarde.

Como sempre acontece, ela teve que citar o namorado. Eu disse: forget it. Descemos na Taquara, ponto onde ela desceria de qualquer forma. Normalmente eu desceria no Pechincha, onde resido. Daqui para a frente só posso dizer que nunca folhear um libreto de compact disc me deu tanta alegria e Satisfação.

Não houve troca de telefones, e-mails, orkut, nada. Será que ainda a encontro de novo?

banquete a quem aprouver passar vexames

A sua baixeza, a sua vildade... abundam e assustam a qualquer um que passa. És o terror de todos os transeuntes!

Por sua causa, estou aqui. Neste estado em que atualmente me encontro... um reles poetinha. Mais um chato de plantão, segundo o seu linguajar. Mas, paciência. Se não queres dar um real por estas mal traçadas linhas xerocadas que te ofereço, então não precisas dar.

Provocas tal situação e depois queres sair ileso, são e salvo. Como se nada tivesse acontecido, e - ainda pior, oh, muito pior! - como se não tivesses nenhuma parcela de responsabilidade no ocorrido.

Você age como o Estado que se acha muito bom e caridoso por pagar a minha pensão com a pensão que recebo pelo atual estado em que me encontro. Você me subjuga, humilha-me, transformas-me em um garrancho, em um elemento mau, mau e mal acabado. Transformas-me em um chico buarque qualquer. Um Maracanã sem a folia futebolística, nem um show do Rush em 2002.

você me transforma naquilo que bem queres. Ah, mas e daí se eu fico me sentindo um idiota? Se eu perco o meu resto de dignidade que eu guardava na esperança de compartilhar com os meus filhos vindouros? O que você perde se eu perco até mesmo a coragem de me olhar no espelho? Deixe que as coisas transcorram dessa forma! Não se importe se a vergonha domina o meu ser.

Só posso parabenizar-te. Fazes exatamente o que eu deveria fazer contigo desde o começo da nossa conturbada relação. Deveria fazer jus às minhas costeletas vermelhas.

Durma-se com um barulho desses? Pois o meu sono está pra lá de atrasado...

sexta-feira, 27 de março de 2009

rumos e aprumos

Chora Leblon, chora a Muda, chora a Covanca, chora todo o Rio de Janeiro. Aliás, todo o país, para ser mais exato. O Chico Buarque morreu...

Franscesco Buarque de Hollanda Morelembaum III. O malandro, o romântico, o poeta, o artista no mais amplo sentido da palavra. Nariz de platina, mas um coração de ouro. Poeta de várias gerações, herói de uma hora.

Morreu da mesma forma que adorava levar a sua vida. Foi encontrado na madrugada de ontem (05/06/2008), em uma água furtada em Vila Isabel. Peritos confirmaram que o menino sonhador de olhos de ardósia passou sua última noite numa autêntica bachanalia de jovens mulheres, prazeres etílicos, barbitúricos mil, e o pozinho branco responsável pela constituição metálica das suas vias nasais.

Idealista, não tinha medo de lutar pelas coisas em que acreditava. Tanto é que no já distante ano de 1964 não titubeou em participar, junto a Elis Regina e Gilberto Gil (igualmente saudosos gênios da nossa tão cantada e encantada Música Popular Brasileira) da Passeata contra o uso da guitarra elétrica em nossa música. Bons tempos aqueles...

Parece uma feliz coincidência o local da morte de nosso querido Chiquinho. Vila Isabel, bairro carioca que se notu notório por dois grandes poetas que deixaram belas canções e muitas saudades: Noel Rosa e Martinho da Vila.

Chiquinho, acho que já sabias disso enquanto vivo estava, mas de qualquer forma reforço aqui a afirmação de que nós, todos os brasileiros, somos e sempre seremos seus fãs.

“O homem morre, mas o seu legado para sempre permanece. E muda o mundo a cada vez que é cantado ou sequer citado.” ( Décio Pitinnini)

quinta-feira, 26 de março de 2009

eu espero que não o faça

Hoje vamos falar sobre um assunto sempre presente nas letras de Pete Hamill, o vocalista do Van der Graaf Generator: o meio tempo entre a morte e a reencarnação.

Dia desses senti-me como Duarte, o personagem de José Wilker (o esquisito que satisfaz) na novela Roque Santeiro, cuja versão aprovada pela Censura foi ao ar na tv brasileira em meados dos anos 80.

Como assim senti-me como ele? Simples. Nessa novela Duarte (personagem do esquisito que satisfaz, como já foi citado anteriormente) divertia-se ao ler estórias de cordel falando sobre a vida e morte de Roque Santeiro. O toque de elegância é que o tal do Duarte era na verdade o Roque Santeiro disfarçado, como todos viriam a saber depois, com o desenrolar da trama.

Pois no tal dia ao qual me referi um pouco acima passou pelas minhas mãos um livro espírita que contava a estória supostamente verídica de um rock star viciado que morreu de (adivinhem?) overdose.

Não me senti de forma tão similar ao Duarte pois eu não era o tal rockstar morto. E havia outro fator que me distanciava mais ainda de tal personagem: o fato de eu não transar drogas. Se eu fôr drogado, só se fôr de tanta lucidez. Só assim.

Mas a tal estória era no mínimo hilária. Não me lembro dela com detalhes, mas recordo-me de que o tal rockstar (eles usaram um nome fictício pra esconder a sua verdadeira identidade) de fato penou, comendo o pão que o diabo (aqui neste caso o seu vizinho) amassou.

quarta-feira, 25 de março de 2009

limites rígidos

Coisas da década de 1981 a 1990. Nessa época eu estava na mais do que tenra idade de 8 primaveras. O meu grupo escolar, num rompante de sagacidade cultural, levou a minha turma para algo completamente diferente. Fomos fazer uma visita domiciliar a um dos grandes baluartes da literatura brasileira.

Nossa tia (como chamávamos a professora) recomendou que levássemos gravadores, para que depois fizéssemos um trabalho valendo nota. É sempre assim, não é? Depois que a tia (que não é nem nunca foi irmã da minha mãe ou do meu pai)botou ordem nas suas ferinhas, todas com os shortinhos tão em voga naquela época, naquela agitação infantil de praxe, começamos a, digamos assim, entrevista coletiva. Logicamente que não vou me lembrar agora de quem fez qual pergunta, e nem vou me lembrar de tudo o que foi perguntado. Mas vamos seguir com os trechos que a minha memória permite repassar para vocês:

Q:COMO É ESSA VIDA DE PROFISSIONAL DAS LETRAS, ARTESÃO DE SIGNOS?

A: Olha, por mais clichée que possa parecer, eu tenho que dizer isso. Não tem jeito. É uma coisa mágica, sabe? Num momento estou diante de uma celulóide em branco, e como que num estalo essa mesma folha está completamente preenchida. Com um oceano de letras. E outra coisa muito interessante a se ressaltar, a título de apendice, é essa coisa que a literatura de uma forma geral (tanto em prosa quanto em verso) nos permite, que é essa possibilidade de jogar com a ficção e a realidade. Misturar esses dois mundos num mesmo parágrafo, numa mesma frase.

Q: NA DÉCADA PASSADA TIVEMOS UM PROBLEMA SERIÍSSIMO COM OS CENSORES, NOS PORÕES DA DITADURA. VOCÊ FOI MUITO "TESOURADO" NESSE PERÍODO?

A: Olha, não fui pouco tesourado não. Me surpreende que vocês não precisem de uma lupa para me enxergar, de tão multilado e diminuído que eu fui (risos, só por parte do autor da sentença). Mas, agora falando sério agora, bota aí que de cada vinte crônicas/romances que eu escrevia, uns 2 ou 3 chegavam às ruas. E mesmo assim totalmente adulterados. Foi uma violência que acho que só quem passou por isso pode ter idéia da dor que foi.

Q: "DIRETAS JÁ" É O BRASIL QUE VAI PRA FRENTE?

A: Talvez seja cedo pra esbanjarmos tanta alegria. Esperança, é claro que é preciso ter.Mas só o tempo vai nos dizer o que realmente vai acontecer. Pode ser o fim da corrupção, mas pode ser também que muita coisa continue acontecendo por debaixo dos panos. Ou seja, tudo pode mudar para muito melhor, mas pode ser também o pior dos mundos.

Q: COMO FOI TER UMA DE SUAS OBRAS ADAPTADA PARA O CINERAMA PELO MAIS ILUSTRE GRUPO HUMORÍSTICO DO PAÍS?

A: É sempre uma honra ter uma versão de uma obra sua. Nesse caso, então... Eu adro eles, tenho que confessar isso. Mesmo não sendo um grande entusiasta da indústria televisiva, todo domingo à noite eu assisto o programa deles, e me pego sempre dando risadas gostosas, como um molecote, entre uma propaganda e outras dos lençóis Karsten.

terça-feira, 24 de março de 2009

fagotes de prata

Entrei no avião junto com a minha senhorita, Geralda d'Albery. Para poder apreciar melhor a paisagem, ela escolheu ficar sentada à janela. Eu, logicamente, sentei-me ao seu lado, na poltrona do meio. Sendo um set de 3 lugares. Uma pessoa estranha sentar-se-ia ao meu lado. Quem seria?

Minha dúvida foi sanada poucos minutos após adentrarmos no grande pássaro de aço inox. E não é que se tratava de uma celebridade internacional? Mas não foi com muita alegria que constatei tratar-se dele, o "Júlio Igreja". Sim, isso mesmo, o próprio, aquele que acha que o Roberto Carlos e Edson Arantes do Nascimento são bons cantores (ou seria excesso de educação por parte dele?): Julio Iglesias de la Mancha!

Gegê teve que se segurar para não soltar um gritinho. Na verdade ela estava um tanto quanto confusa. Não sabia se achava isso bom ou ruim. Eu olhei para os céus (nesse caso o teto do aeroplano) e implorei de mim para mim que o meu vizinho de poltrona não resolvesse dar uma palhinha da sua voz.

Estou quase seguro de que foram as três horas mais longas da minha vida. Tal qual um boneco de Olinda, eu olhava para o nosso vizinho de rabo de olho, muy discretamente, tomando conta de cada um de seus movimentos. Se eu fosse um autêntico felídeo, muy provavelmente minhas orelhas estariam bem repuxadas para trás. Eu suava frio cada vez que ele ameaçava abrir a boca. Para a minha sorte ele só o fez três vezes, e mesmo assim para fins não-bélicos: uma vez pra espirrar e duas para emitir um tímido bocejar.

Uma vez que o aeroplano aterrisou em terra estrangeira e descemos, meu rosto readquiriu sua (pouca) cor natural, e pude voltar a entabular diálogos de forma humana e inteligível com a minha Gegê. Mas algo me deixou curioso até o presente momento: o que estaria fazendo Júlio Igreja viajando na classe mais ordinária do aeroplano?

segunda-feira, 23 de março de 2009

interessam?

Nesse curto perído de 7 anos, entre 1962 e 1969, houve uma bifurcação na forma de agir, pensar e ver o mundo dos 4 caballeros de Liverpool, especialmente entre o Beatle Winston e o Beatle James. Essa partida em direções opostas alcançou um arranque em velocidade vertiginosa entre os anos de 1966 e 1968.

Conseqüências disso? Em 1971 o Beatle Ed não estava indo muito bem nas paradas da Suécia. Ou seria da Escócia?

Representaria o Beatle Richard o ponto estático? Aquele que é usado como um ponto de referência, um lugar para onde os outros Beatles poderiam voltar correndo caso achassem que estavam indo longe demais? E, para saber o quando haviam se distanciado do ponto original, será que bastaria simplesmente pegar uma trena e medir a distância entre o Beatle em questão e os pés do Beatle Starkey?

Há gente que ache que o seu sobrenome é Starkney. Muito obrigado de coração, revista Somtrês.

Disse um dos Beatles que se eles tivesse adentrado nos anos 70, acabariam virando uma espécie de Supertramp. E aí eu pergunto com a maior expressão de incredulidade: será?

domingo, 22 de março de 2009

resmas e rusgas

Quem foi que disse que a volta do Deep Purple em 1984 foi algo saudável para o universo da música rock? Das duas uma : ou houve um excesso de inocência por parte da imprensa especializada, ou então é aquela velha estória de empurrar um produto com o prazo de validade pra lá de vencido pra um público consumidor pra lá de deslumbrado, e que aceita qualquer porcaria.

Público esse, aliás, que vem sempre com aquelas frases: “Eles estão com o mesmo vigor físico e musical de 1970”, ou então “Ah, mas eles vão tocar as músicas clássicas”. Meu Deus do céu, durma-se comum barulho desses! Se ao menos fosse um barulho decente...

Eu garanto que isso pode ser perfeitamente explicado (justificado jamais) através da filosofia. Como, com a passagem de alguns anos, um determinado conjunto de pessoas (nesse caso, por coincidência, trata-se ao mesmo tempo de um conjunto musical) que nos deu tantas alegrias passou a nos dar desgosto em nível similar.

Vamos, inicialmente, analisar essa questão através do cerne da rotatividade de pessoas dentro desse mesmo conjunto. Para isso vou ter que fazer uma passagem muito rápida pela história da banda (ou conjunto de indivíduos, ou conjunto de pessoas, ou conjunto musical, como queira).

O Deep Purple anunciou o seu fim em 1976, e oito anos depois anunciaram uma volta triunfal. Nessa volta, estavam compostos pela sua segunda formação, que por coincidência (e apenas coincid~encia, que fique isto bem entendido)é a mais famosa. O que levanta mais uma questão: se eles realmente voltaram por mera paixão pela música, como alegam, então por que fizeram esse retorno justamente com a tal formação “clássica” (subentende-se que foi esse também o line up mais construtivo)? Essa é pra pensar na cama, hein?

Fato é que ian Gillan já não faz uso do seu plexo solar com a mesma magnanimidade e sapiência.Rod Evans, ainda que com um belo trinado e com expressividade na medida certa, pode soar um tanto quanto obscuro para os fãs de Smoke on the Water. E além disso, ainda teve uns entreveros com os outros ex-integrantes ao se apresentar com um Deep Purple fake no começo dos anos 80 ( ou final dos anos 70. Não me recorod bem agora se essa suposta volta foi em 80 ou 81). E David Coverdale a essas alturas do campeonato está feliz e contente com o seu Whitesnake, obrigado. Comentários tais servem para divagarmos sobre outro tópico, a questão das mudanças de indivíduos dentro do grupo.

Chupinhando descaradamente de outros livros que fizeram estudos relacionando a bandas de rock e assuntos filosóficos, levanto aqui a questão: o Deep Purple com a primeira formação seria o mesmo Deep Purple da segunda formação? Ou seria mais correto dizer que se tratam de duas bandas diferentes com o mesmo nome? A tendência natural é concordar precipitadamente com a segunda indagação.

Mas basta pensar alguns segundos para lembrarmo-nos de bandas como os Beatles e o Who (especialmente os beatles), que passaram por mudanças profundas no seu som (e por conseqüência na sua identidade musical) sem para isso ter mudado a sua formação. Claro que levo em conta aqui o período da banda entre 1962 e 1969 – a clássica formação com John Lennon, Paul McCartney, George harrison e Richard Starkey. É lógico que Pete Best e Stu Sutcliffe (gente como Billy Preston, Brian Jones e Eric Clapton foram apenas participações especiais, ok?) tiveram a sua importância na história da banda, mas vamos nos concentrar nos Fab Four para a nossa análise.

Framboesas do garoto chato

Chico Buarque cantando rap? Chico Buarque produzindo rap? Dá pra imaginar uma coisa ridícula dessas? É por isso que eu nem pensei duas vezes. Abandonei o estúdio na mesma hora!

Já pensaram? O Mano Francesco mandando um salve pras comunidades do Leblon, de Ipanema... seria o parceiro perfeito pro querido ( não meu, mas de alguns outros) MC Playboy. Quem não se lembra? Incluam-me nessa lista.

E adianta levantar essa lebre frente aos fãs do fanhoso cantor? De nada adiantaria. Se tivessem que submetê-lo a uma sabatina de perguntas feitas pelos seus admiradores... eu até consigo imaginar o tipo de interrogação que seria feita: “Ó inenarrável Francesco! Qual a praia que mais aprecias e na qual mais gostas de repousar o seu corpo delgado? Arpoador ou Leme?”. Com certeza viria em seqüência uma resposta como: “Para mim todas as praias são como uma personificação (sic) do Paraíso. Aliás, temos que reviver os momentos românticos das serenatas ao luz da Lua!”.

Serenatas em pleno ano de 2008, velho Francesco? Tás brincando? A minha namorada mora no oitavo andar do prédio. No mínimo eu vou precisar de uma guitarra elétrica e de um PA! Qual o romantismo disso?

sexta-feira, 20 de março de 2009

O catálogo da ATCO, 1969

A "ação" se passa em um ristorante a "kilo". Pelo menos assim dizia a tabuleta na entrada de tal recinto. Entra o suposto casal. Veremos logo adiante que é postiço, mas de qualquer forma não deixa de ser um casal. A parte feminina desse casal postiço, totalmente despreocupada com o que quer que seja (muito diferente de seu partner, logo logo veremos por que), fala num tom de voz alto e estridente:

- O que você quer , amor?

Ao qual esse responde com uma sentença inusitada, olhando para os lados e suando frio:

- Eu quero e preciso é sumir daqui, o mais rápido quanto possível for.

Mas não o fez. Continuou dentro do ristorante. Segundos antes de proferir essa sentença o tom de sua pele adquiriu uma miríade de matizes. Talvez haja um exagero aqui, mas uma grosa, com certeza adquiriu. Por absurdo que possa parecer.

E por que isso aconteceu? Essa estranha reação química? Porque ao entrar no ristorante o macho alfa do casal postiço simplesmente deparou-se com a sua namorada de fato.

Ficou pensando ele: "O que posso fazer para resolver essa situação? Digo que ela é uma colega de trabalho que por coincidência saiu pra almoçar no mesmo horário que eu? Não, essa vai ser difícil de colar. Ainda mais depois que essa antinha me chamou de amor. Além do mais, com um mínimo de dicernimento dá para perceber que ela não iria trabalhar com esses trajes".

E continuou nas suas reflexões: "Correr é para os covardes. E a minha mãe não criou nenhum covarde. E como já diziam os Ramones: eu tenho o meu orgulho e defendê-lo-ei".

Por outro lado, e conhecendo a namorada que tem, ele logo se deu conta de que não adiantaria nada tentar explicar o que estava acontecendo. E quanto mais ele tentasse se explicar, pior ficaria a situação.

Como o ser humano de uma forma geral é um eterno recipiente de contradições, uma contradição ambulante, voaram penas nesse momento, simultaneamente a um forte vento e uma centelha de fogo provocada pela forte propulsão.

quinta-feira, 19 de março de 2009

balaustradas gerais

- Qual é a senha? Pra entrar no nosso clubinho secreto?

- Poxa, vou te falar a verdade. Até ontem eu a tinha sempre na ponta da língua. Mas tenho que confessar que realmente olvidei-me dela.

- Então não podes entrar, nenen.

- Mas também , queres saber de uma coisa? Prezo muito uma amizade sincera. Coisa que dizem ser muito rara hoje em dia. Mas, por outro lado, acho que essa coisa de clubinho secreto, a estas alturas do campeonato, é um pouco demais, né? Afinal, todos nós já passamos dos 20 anos.

- Mas e a tradição? A acomodação? Afinal já faz mais de 15 anos que temos esse clubinho secreto...

- Que de secreto nem tem muita coisa, né? Sejamos realistas e pragmáticos. Afinal todo mundo sabe de cor e salteado quem faz parte do clube. Queria você que fôssemos os novos maçãos.

- Não, não precisa chegar a tanto também. Não me agrada muito a idéia de lidar com magia pesada e tocar atabaque.

- Mas quem te disse que os maçãos fazem isso? Na verdade eles se cumprimentam girando o braço em 360 graus, e quando se reúnem pegam uma maleta cheia de arame, bufunfa, e ateiam fogo nela.

- Ah, é? Juro que não sabia disso. Olha como é bom conversar com uma pessoa lida e sabida, mais esclarecida...

- E te digo mais. Se você fosse realmente um mação não poderias jurar. Se o fizesse, apareceria uma mão negra que só voc~e enxergaria, e ela lhe daria um tapa forte na face.

quarta-feira, 18 de março de 2009

O RADICAL LIVRE DO PROFISSIONAL LIBERAL

Estamos conversando com aquele sujeito que veio de muito longe, falando justamente sobre loucuras e escapes. Sobre criar uma realidade paralela com o intuito de sublimar todas as suas ( e não tuas, veja bem) frustrações e desejos reprimidos.

Parece estranho para ti? Dá a impressão de que estou querendo relatar sobre algo referente à minha própria pessoa, mas que estou sem coragem de fazê-lo? Bah, esqueça. Se você acha isso, então recomendo que nem se dê ao trabalho de continuar lendo o restante desta epístola aqui presente.

Eu sou um legítimo representante do que há de melhor na raça humana. Uma pessoa sem defeitos, e sem nada para esconder dos meus (dizem, apesar de eu não concordar) semelhantes. Eu moro na barra da cidade. Não confundir com a Barra da Tijuca. Eu não sou vizinho de Francisco Buarque de Hollanda Morelembaum. Eu não beijo a boca do Caetano Veloso. Eu não sou um daqueles hippies que dançam um forrozinho. Eu estou imbuído de uma paixão pela minha arte e pelos meus ídolos que ninguém mais parece ter nos dias atuais. Eu posso até mesmo fazer chover, se você permitir que eu exerça o meu exibicionismo latente.Eu estou acima de tudo e todos, e ai de quem se meter comigo.

O momento é de sal, não é de açúcar. É de bicarbonato de sódio, e não de essência de baunilha. É de número cinco, e não de número oito. É o caule da planta, e não o parênquima. São os cilindros do motor, e não o virabrequim.Ninguém mais sabe o que é e o que não é, ou então o que é e o que nunca deveria ser. Ou a coisa que não deveria ser. Cuidado que a qualquer momento o frenesi pode te pegar. E o desconforto será imenso.O que logicamente te provocará uma tremenda má sorte.

Tens medo do horror? De bruxas, sacis, lobisomens, boitatás, curupiras, caiporas, animais do Instituto Butantã, mulheres de branco, negrinhos do pastoreio, Ênio e Beto, aberturas antigas do Fantástico, aranhas caranguejeiras, costeletas flamejantes, entre outros? Fica não só a pergunta, mas também instaurado o horror psicológico.

É tomar cuidado com tudo e todos. É não confiar em ninguém, como já diziam os portugueses há muito tempo atrás. E não se pode nem dizer que estamos revivendo os dias da revolução francesa, basicamente por dois motivos: primeiro que um dia só tem vinte e quatro horas, e uma vez que acaba-se a sua vigésima quarta hora, já era. Inicia-se então um novo. E em segundo lugar, não estamos na França, acredite se quiser.

DISSO NÃO TEM NADA

A JUVENTUDE ATUAL, DA QUAL ME EXCLUO COM TODO O PRAZER, NÃO QUER MAIS SABER DE AMOR. AQUELAS COISAS QUE EM PRISCAS ERA CONTITUÍAM, FATO, ERAM COISAS DE PRAXE: OLHAR BEM NOS OLHOS DO SEU PAR E DIZER QUE O AMAVA. VOCÊ PODE ATUALMENTE IMAGINAR UMA CENA DESSAS? EU SINCERAMENTE NÃO.

FOI SE O TEMPO EM QUE PODÍAMOS VER A VIDA IMITANDO A ARTE, AO ENCONTRAR NAS PRAÇAS E EM OUTROS AMBIENTES PÚBLICOS JOVENS CASAIS APAIXONADOS A IMITAR CENAS ROMÂNTICAS CANTADAS EM VERSOS DOURADOS POR PANTEÕES DA NOSSA MÚSICA POPULAR COMO LUÍS MELODIA, LEONI, NICO REZENDE E chico buarque, POR QUE NÃO?

MORREU O AMOR? OU SERÁ QUE ELE SIMPLESMENTE TROCOU A SUA ROUPAGEM, PARA SE ADAPTAR AOS TEMPOS ATUAIS? SERÁ QUE ELE DEIXOU DE SER UM JANOTA BEM TRANSADO, COM O SEU TERNO IMPECÁVEL E SUA CALÇA RISCA DE GIZ? SERÁ QUE ELE AGORA USA CALÇAS JEANS COM O CAIMENTO DE UM SACO DE BATATA? SERÁ QUE ELE SE SENTIU UM EXCLUÍDO NO MUNDO DO "QUERO ISSO PRA ONTEM" E DO "JÁ É OU JÁ ERA"?

TALVEZ EU NÃO TENHA AINDA PERCEBIDO QUE NA VERDADE SOU O ÚLTIMO DOS MOICANOS. MAS QUE EU SEJA, AO MENOS, UM MOICANO AUTÊNTICO, E NÃO ESSES CORTEZINHOS QUE QUALQUER PLAYBOY ESCROTO USA HOJE EM DIA.

É A VELHA ESTÓRIA DO TRANSGRESSOR NA VITRINE DA LOJA, DEVIDAMENTE EQUIPADO COM O SEU CÓDIGO DE BARRAS. É O CAPETA DA NOVA ERA! É A FARMACOPÉIA DOS HORRORES.

É O BRASIL NA ECONOMIA DE ELITE, O BRASIL QUE GASTA. O BRASIL QUE ESBANJA SEM MEDO DE SER POLITICAMENTE INCORRETO.

segunda-feira, 16 de março de 2009

AS ANEDOTAS DO CHIQUINHO

Menino terrível esse nosso miguinho: o Francisco Buarque de Hollando Morelembaum, mais conhecido como Chiquinho.

Chiquinho, como é de seu habitual, passou a noite inteira dedicando-se à suas paixões etílicas, e saiu enxugando todos os bares por onde passou, do Leblon à Vila Isabel. Assim que acabava com os drinks de um bar, seguia na direção que o seu nariz de platina (devido `outra branquinha que lhe deu muitas alegrias e tristezas) apontasse.

Chegando em Copacabana ele encontoru o seu amigo Martinho, que o chamou pra uma feijoada no Copacabana Palace, promovida por um amigo em comum: Francisco Anísio de Paula.

Uma vez dentor do Copa o Chiquinho não deixou barato. Foram pro quarto onde Anísio estava hospedado e botaram o Highway to Hell do Ac/Dc a todo volumen.Alguns padres que estavam hospedados no hotel subiram pra reclamar do barulho, e Chico Buarque de Hollando Morelembaum abriu a porta do quarto e auumentou ainda mais o volume, que ficou ensurdecedor.

Possuído por substâncias ilícitas trazidas por Anísio e Martinho, Chico Buarque de Hollanda Morelembaum pegou emprestada uma serra elétrica e penetrou no quarto vizinho com ela. Os hóspedes do quarto quiseram a todo custo enfiar a porrada no nosso trio maravilha. Apavorados, eles desceram as escadas e foram correndo pra piscina do hotel.

De repente Martinha e Anísio olham ao redor e se perguntam: cadê o Chiquinho? A resposta vem de imediato, com um Rolls Royce que entra a toda velocidade na piscina. E dou um doce para quem adivinhar quem era o motorista, e que perdeu um dente da frente devido ao impacto.

Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso pararia por aí, mas não o nosso chiquinho. Dali ele seguiu a sua peregrinação de bar em bar.

E acordou na casa de um completo desconhecido no Engenho de Dentro. Assim que ele abriu os olhos tentando acordar, a primeira coisa que lhe chamou a atenção foi a poça de sangue formada no chão do quarto. Qual não foi o seu susto quando viu que ess apoça de sangue era sua? E ele percebeu apavorado que estava sem um pedaço de um de seus dedos.

E olhando para o lado da cama, um novo susto: uma criatura imensurável. A partir daí Francisco Buarque de Hollando ficou na eterna dúvida: "Será que naquela noite eu comi o José Eugênio Soares ou a Wilza Carla?"

Há pouco tempo um amigo meu também tomou um susto. Estava ele caminhando distraído na Lagoa quando esbarrou justamente em quem? E que ficou o encarando com os olhos pra lá de marejados, com uma tremenda cara de poucos amigos?

domingo, 15 de março de 2009

o indubitável do inenarrável

Ontem fecharam a minha rua pra que rolasse o bloco de carnaval daqui do bairro.
Eu achei muito legal. Tocaram todas as músicas que eu queria ouvir. Tocaram aquelas marchinhas velhas que sempre ajudam na animação de geral. Depois tocaram as novidades da música baiana. Tocou muito funk, e eu fiz todos os passinhos.
A cerveja tava rolando solta, enchi o caneco mesmo, tava uma maravilha. Boa música, cervejinha gelada sem parar, muita mulher gostosa pra lá e pra cá...
Depois da meia noite começa a tocar música eletrônica. Fiquei maluco. É música pra ficar doidão, né? Me amarrei, o embalo ficou neurótico, alucinante.
Ou seja: dancei, zoei, me diverti por várias e várias horas. E hoje, que é domingo de sol, vou pra praia e só saio de lá junto com o sol. Quer vida melhor que essa?
Amanhã chego lá na loja tirando a maior onda com a rapeize, haha.

Exibindo perfis

Era um artista incomparável . Um performer de mão cheia, daqueles que se entregam de corpo e alma para o público presente, mesmo que esse fosse dos mais apáticos. Para ele uma meia dúzia de gatos pingados já constituía um multidão.

Foi descoberto ainda no final dos anos 60, nas famosas domingueiras dançantes dos subúrbios cariocas. Eram os tempos românticos em que ir da Zona Sul para a Tijuca representava uma verdadeira aventura. Quem diria, né? Aliás qualquer lugar em que gente como Tom Jobim, Vinícius de Moraes e Francisco Buarque de Hollanda tivessem nojinho de botar os pés era logo taxado de subúrbio. Quem diria, né?

Mas, voltando ao nosso incansável ás da melodia. Nessas domingueiras movidas a muito suor e coração, lá estava ele: impecável e impassível. Alucinado e Alucinante. Ele tocava a sua guitarra e dançava com um gingado impressionante. Conquistava até quem tivesse o mais duro coração de pedra. Você poderia até não ser um apreciador do estilo musical que ele estivesse interpretando, ou talvez achasse os seus trajes por demais escandalosos, mas que ele tinha talento de sobra e um carisma raramente visto... Ah, disso era impossível duvidar...

E o palco para ele era como um imenso pátio de escola na hora do recreio. Ele brincava com o público, brincava com os igualmente excelentes músicos que o acompanhavam, tudo era festa. Podia ser segunda ou sábado. Pra ele não havia diferença. Os dedos deslizavam pela sua guitarra elétrica e tudo era razão para escancarar a sua dentuça na maior das alegrias. Quem viu não podia esquecer, por mais que tentasse. E aí eu pergunto: tentar esquecer? Para quê?

Era óbvio que um artistaço desse não merecia outro destino que não fosse a fama em todo o nosso querido Brasil varonil. E assim se fez. Ascendência meteórica para o topo de todas as paradas. Quantas coletâneas de 14 mais não incluíam pelo menos um de seus vários sucessos? Qunatos casamentos e namoros não se iniciaram justamente por causa dessas mesmas canções? Era um sucesso que desconhecia barreiras sociais. A década de setenta foi dele, e isso ninguém podia negar.

Tudo bem, nas décadas seguintes não conseguiu manter o mesmo sucesso, mas é sempre lembrado com muito carinho e consideração por todos que tiveram o inenarrável prazer de escutar pelo menos uma de suas obras imortais. E imorais, de tão boas que eram!


Hoje em dia elogia desbragadamente o Skank. Quem diria, né?

sexta-feira, 13 de março de 2009

piloto azul no papelão

Falar o que sobre Ataulfo de Paiva? Realmente eu não tenho palavras. Afinal, nem sei de quem se trata. Só sei que seu nome foi usado para batizar uma rua da Zona Sul carioca. Coitado, ainda mais essa... se fosse a Zona Norte ou a Zona Oeste, eu não diria nada, acharia até bom.

Como eu imagino que fosse fisicamente o senhor Ataulfo de Paiva Menezes Schumbelein? Eu o imagino com uma imensa bigodeira, cobrindo toda a sua boca e chegando à metade do seu volumoso queixo de piranha (refiro-me ao peixe de água doce, que fique bem entendido). Devia ser um janota bem transado, cheio do arame. afinal, dar nome a uma rua não é pouca coisa, né? E tem mais. Tudo bem, vamos odiar a Zona Sul, mas temos que reconhecer que é lá que a grana apresenta-se com mais força e impacto. Muy provavelmente essa deve ser uma das razões para desdenharmos tanto esse pedaço de nossa província.

Província? Província sim! São Paulo é uma cidade. Já o Rio de Janeiro é uma província, uma capitania heredtária. Subsiste à base de plantation, cultivo de cana de açúcar em solo de terra roxa, massapê. Quer viajar no tempo? Anos luz em mais ou menos 5, 6 horas? Pegue a auto-estrada em direção ao sul. Só digo isso.

Hoje eu tô um azougue. Impossível.

quinta-feira, 12 de março de 2009

bate daqui e de lá

A mutilação está tomando conta da cidade. Não só da cidade onde vives, mas de todas as cidades num raio de milhões e milhões de quilômetros, em mais de quarenta mil países. Ou seja, metade da civilização cristã. Resistência Latina!
Estará a descaração perdendo terreno para a mutilação? A primeira citada reinou soberana do final dos anos 80 até há bem pouco tempo. Eu só soube disso hoje pois lamentavelmente sou um alienado. Alguns diriam que há muito tempo vivo dentro de uma caverna ou em pequenos vilarejos sem acesso à energia elétrica, quiçá à água potável. Bebendo saliva de ursos? Nah, uma idéia por demais repugnante.
Seria muy tentador fazer um tributo, uma homenagem póstuma à descaração. Ela que ditou os nossos comportamentos por tanto tempo. Eu considero que cada pessoa tem o seu determinado comportamento/temperamento, mas como estou falando de várias pessoas, quiçá de metade da população mundial... e vejam vocês, deu no que deu. O que no início era uma revolução no modo de pensar e de agir acabou se rendendo ao capitalismo pra lá de silvícola, e virou mais uma modinha, como a lambada do fim dos anos 80 e o pirocóptero na metade da mesma. Época de Chico Buarque gravando clipe dentro de um trem em movimento, exaltando as maravilhas do lugar, seja lá de onde for. Nenhuma ilusão merecedora de um Oscar o ajudou. Afinal, você se lembra desse videoclipe? Nem eu.
E a Resistência Latina? Ah, essa foi e é plenamente expressa através de palavrões e palavras de ordem, sendo que muitas vezes um era o outro, e vice-versa, ao mesmo tempo. Vencer pelo cansaço, pela insistência, pela auto-referência, pelo abuso, pelo simples ato de se tirar uma camisa. Pela carniceria. Cada vez que Spinetta desferia um acorde de sua guitarra smi-acústica, isso para mim e para milhares de cidadãos latinos soava (e ainda soa) como a mais pura resistência. Nenhum de Nós pode negar isso. Certo, Thedy? Já para os gringos, os Ianques, os Papa-bacon, isso devia ser uma audácia sem tamanho, maior do que todo o território texano.

quarta-feira, 11 de março de 2009

O Jorge que te afasta

O ser humano pergunta se é acidente e se tem morto, e só o urubu leva a fama. Não ficamos muito a dever, né? Será que o ser humano ( eu não, estou um passo além disso tudo- e ainda têm a coragem de chamar isso de racionalidade. Ah, se eles te ouvissem mais e melhor, Zezé Mota...), além da "mais que alardeada, a ponto de virar um clichê darwiniano" teoria de que somos filhos do macaco, é também sobrinho do urubu?

E já que estamos no departamento das indagações, o que é cambalacho? Apenas um logotipo com as letras arredondadas? Um Rubber Soul extremamente ridicularizado? Não sou um Jesus pra que ponhas mais um prego nas minhas mãos. prego metafórico, sua zebra. Vá a uma loja de discos dizer que o vendedor tinha que ter todos os discos do King Crimson na loja.

E você? Tem?

Seria Charles Gavin o Charles Darwin brasileiro? Seria o Led Zeppelin o novo Audioslave? Seria o Chico Buarque o velho Felipe Dylon?

Arre!

terça-feira, 10 de março de 2009

Eles e o diabo são amigões

O local e a ocasião de fato não eram dos mais aprazíveis. A sofisticação no ambiente chegava a níveis periclitantes, por assim dizer. Gente com a qual eu não tinha nada a ver, fazendo uma exposição de idéias com as quais eu definitivamente não concorda. Para ser mais explícito, eu estava completamente indiferente a tudo e a todos, e achando tudo um verdadeiro saco, como diz a canção popular.
Apesar de estar definitivamente "fantasiado", como exigia a solenidade, logo descobriram ou pelo menos supuseram que eu era um entusiasta do ritmo jovem, muy provavelmente por causa das minhas longas madeixas. E quando se fala em ritmo jovem um dos primeiros conjuntos que vêm à mente são os THE ROLLING STONES. Dito e feito, como vocês logo perceberão no prosseguir desta narrativa.
No meio desse mundaréu de coroas esnobes havia um que por algum acaso era inglês. E assim foi a sua narrativa, ipsis literis, ou quase isso:

- Você foi nessa última apresentação dos THE ROLLING STONES aqui na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro? Eu fui e fiz questão de ficar bem próximo do palco. Não deixei de ir a nenhum dos shows que eles fizeram aqui na cidade. E te digo mais. Eu já assisti a vários shows dos THE ROLLING STONES desde 1964, quando eu era um jovem rapaz de 16 pra 17 anos, e posso te garantir que eles estão melhorando com o passar do tempo.

Achei que nem valia a pena eu engrossar e dizer que os THE ROLLING STONES só fizeram material decente até 1974, quando da saída de Mick Taylor da guitarra solo do conjunto. Para que? Ele continuaria dizendo que os THE ROLLING STONES eram como galinhas velhas, produzindo um caldo cada vez mais saboroso, e eu continuaria pensando exatamente o contrário.

A melhor forma que encontrei para protestar foi negando-me a comer a sobremesa de manga com colher e guardanapo, como todos os demais presentes naquela cobertura.

Não estava protestando contra o coroa inglês, afinal ele só estava tentando ser simpático. Um tanto quanto a la Ezequiel Neves, mas ninguém é perfeito.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Um dia de cão num mês de cães danados é assim.

273. Diz o contador de senhas. E lá vai o Chiquinho.

- Bom dia - diz o caixa.
- Bom dia. Como vai de família? - diz Chiquinho, tentando forçar uma intimidade nada providencial. O caixa, lógico, faz ouvidos de mercador e puxa para si a conta de luz das mãos de Chiquinho.
- Tu tem gato, né? - diz o moço do guichê a ver o valor da conta de luz do Chiquinho. Meros três reais e trinta e quatro centavos.
- Como você sabe? É um gato persa chamado Sweet Inspiration.
- Não, eu não tô falando desse tipo de gato. Eu digo gato de luz. Aliás, pelo preço dessa conta, não deve ser nem um gato. Deve ser um tigre, uma onça, uma jaguatirica...
- Escuta aqui. Eu ia ficar calado, mas você está me forçando a engrossar. Eu fico quase tr~es horas mofando aqui esperando pra ser atendido e você me insulta dessa forma, com um festival de barbaridades?
- Como é que é? Você tá dizendo que o que eu estou cometendo é uma sucessão de erros?
- Exatamente, meu caro, exatamente. E digo mais. Assiduamente.
- Pois eu tenho uma sobrinha que adora desenhos do Pica´Pau e do Tom e Jerry, e ela os assiste diariamente.

Tirou onda.

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domingo, 8 de março de 2009

És Analista?

- Só entrego a minha boca para homens mais experientes.

Tomei um susto ao ouvir o meu grande amigo proferir esta declaração bombástica. Eu havia acabado de adentrar o supostamente respeitável recinto. Com muito tato e delicadeza, vi-me obrigado a indagar-lhe:

- Ô, Nestor! Mas que viadagem é essa? De você eu não esperava isso! Apesar de que, pensando bem, esse seu bigode nunca me enganou... hmmm

- Como é , Sandoval? Eu tenho 2 afirmativas para passar-te. Primeiro vamos falar sobre o meu bigode.

- Que fale, ô, Pepe.

- Estou seguindo o grito da moda entre os melhores roqueiros da Suécia. Que fazem o que eles conhecem lá como rock "bigode". É uma garotada nova que geralmente porta bigodes sob o nariz e que fazem um ótimo rock and roll, que não deixa nada a dever às melhores bandas dos anos setenta.

- Bigode explicado, ok. E a parada lá de entregar a boca e tal?

- Ah, então isso é muito fácil de se explicar. Acredita você que ontem eu fui numa clínica dentária, e o dentista que ia me atender estava no primeiro período da faculdade? Aí quando eu soube disso eu me levantei bruscamente e proferi aquela frase. De qualquer forma, é compreensível o seu susto. Entendeste agora?

- Agora sim. Guaraná Coroa, esse eu tomo!