quinta-feira, 28 de maio de 2009

geadas da serra

Fui convidado a fazer uma visita ao apartamento do casal caretinha. E, acreditem se quiser, eu fui! Da mesma forma que George harrison começou a ir aos autódromos assistir às corridas de Fórmula Um depois que ele saiu dos Beatles. Porém tenho certeza de que George o fazia com mais alegria do que eu fiz ao ir à casa do já citado casal.

Cheguei na hora marcada, cravadinha, como bom sujeito pontual que sou. Convidaram-me para um almoço, então cheguei às doze e trinta, confrme o marcado. Chegando perto do apartamento comecei a ouvir música, muito embora não soasse exatamente como música aos meus ouvidos, e logo veremos por que.

Toquei a campainha e logo fui recebido com muita alegria pelo Caretinha. Ele estava de calça jeans, para dar um ar mais informal ao encontro. mas aquelas calças jeans bem caretas, quase na altura do umbigo, com a camisa polo por dentro da tal claça, e adornado com um cintinho de couro trançado. Preciso dizer que o Caretinha usava um cavanhaque? E, dito e feito, eu logo reparei uma etiqueta dependurada na calça baggy do Caretinha. Muy provavelmente ele deve ter comprado às pressas, para não fazer feio diante da visita tão despojada.

A tal música citada era nada mais nada menos do que Stanley Jordan, vejam vocês. Fiquei com medo de que ele resolvesse atacar de Al Jarreau, ou talvez Quincy Jones, vai saber? Depois, pra "pesar" um pouco mais o ambiente, ele botou um disco do Sixpence None the Richer, ou Couting Crows, ou qualquer um desses matchbox 20's e marron fives da vida.

Depois do almoço, como já era de se esperar, foi servida sobremesa de manga com talher e guardanapo. Se estava uma delícia? Claro que não.

A sorte deles é que eu não sou das pessoas mais antipáticas e desagradáveis. Se fosse algum outro seria capaz de ocorrer o seguinte diálogo na mesa de jantar:

_ Gostas de blues?
_Não.
_Gostas de Jazz?
_Não.
_De country and western?
_Não.
_Então do que gostas?
_Do mal fadado punk rock.

terça-feira, 19 de maio de 2009

fá-lo-á porque quererá

O doutor Jairo Almeida está aqui para esclarecer algumas dúvidas sobre esse terrível mal, o Colesterol. O que é? Como ataca o nosso organismo? Seguem abaixo alguns questionamentos que as pessoas costumam fazer em relação a isso:

- O Colesterol é transmitido através de picadura de mosquitos?

- Quimioterapia é uma solução eficaz contra o colesterol?

- O vírus do colesterol consegue se proliferar em temperaturas extremamente baixas?

- O Colesterol é transmitido através de fungos?

- O uso correto do preservativo é uma boa maneira de se prevenir contra o Colesterol?

- Freddie mercury e Mauro Facio Gonçalvez têm em comum o fato de terem morrido de Colesterol?

- Lavar bem as frutas e verduras antes de comê-las diminui de forma sensível a quantidade de colesteróis nesses alimentos?

- No caso de uma explosão do Colesterol teremos que sair às ruas com as faces protegidas por máscaras, como ocorre vez por outra na Cidade do México?

- O grupo de risco, smpre citado quando falamos sobre o Colesterol, é um mito?

- A troca do sangue pode eliminar por completo o vírus do Colesterol?

- Quais drogas podem aumentar o risco de contrairmos o Colesterol?

- Comprimidos, pomadas ou xaropes? Qual o melhor remédio para cuidar do Colesterol?

domingo, 17 de maio de 2009

portuários

Todo dia eu saía pra trabalhar, e lá pelas 8 e poucas da manhã eu passava pelo botequim que fica a poucos quarteirões da minha casa, onde eu visualizava já uma pequena turma com o copo em mãos. Quando eu voltava do trabalho e obrigatoriamente passava em frente a esse mesmo recinto, por volta de umas 12 horas depois, o movimento já estava mais intenso, mas notava que aquela mesma turma que eu via de manhã permanecia ali, quase que em sua totalidade.

A princípio isso me intrigava. Eu tentava imaginar como é que essas pessoas conseguiam levar tal estilo de vida. E o pior, de domingo a domingo. A qualquer dia e hora que eu passasse por lá encontraria aquela mesma turma. Podia mudar até o atendente, mas a velha turma nunca. Jamais.

Com o passar dos dias essa intriga foi transformando-se em inveja. Aí toda vez que eu passava por lá, principalmente quando eu estava a caminho do abate - quer dizer, do trabalho - e eu via aqueles desocupados com o semblante inchado e marejado eu automaticamente pensava de mim para mim: "Eu é que queria ter essa boa vida. Passar o dia inteiro fazendo o que gosto, e esquecendo-me dos meus problemas e de toda a humanidade em geral. E pra ficar todo dia assim provavelmente esses safados devem ser sustentados por alguém. No caso dos mais novos, que não devem ser aposentados, devem ter uma esposa iludida que dá um duro danado pra pagar o aperitivo desses indolentes..."

Numa manhã de segunda-feira, ao passar pela enésima vez por aquele botequim no meu trabalho, deu-me algo na cabeça e resolvi parar naquele bar. Encontrei um espaço entre aqueles corpos que pareciam estar plantados ali há dias e solicitei uma Skol. O toque elegante e curioso desse meu pedido é que fazia muitos anos que eu não botava uma gota de álcool na boca. O atendente deve ter estranhado o contraste entre a minha figura, com roupa limpa e bem passada e os cabelos recém-lavados esculpidos por uma fina camada de gomalina, e a figura daqueles corpos em tal estado que só eram conservados pelas injeçõs (via oral) homéricas de álcool etílico.

Aqueles que pensam que eu me limitei a uma única Skol e depois segui o meu caminho rotineiro para a lida estão redondamente enganados. Já os que intuiram que uma Skol puoxu a outra que puxou a outra, e assim sucessivamente, estão e... eeeê, São Paulo... ê, São Paulo... exatos!! Só me levantei daquele banco depois que o Sol havia se posto. Na verdade horas depois desse fenômeno natural. Lá pras nove da noite levantei-me, sabe-se lá com que forças, e encaminhei-me para a minha residência, parecendo uma garrafa de Velho Barreiro ambulante. Vale ressaltar que a minha degustação etílica não restringiu-se somente às cervejinhas. Aventurei-me também por outras sortes de traçados e licores.

E assim foi nos dois dias seguintes. Como eu não tenho a mesma resistência física dos meus "colegas" de balcão não pude agüentar essa bebedeira por muito tempo. E não demorou para que eu pagasse um preço muito alto por essa imprudência. Tal qual um River phoenix (se é que é assim que se escreve). Com a diferença de que um apaixonado Milton nascimento não fez nenhuma canção de lamento para mim. Vendo a coisa por esse prisma, graça a Deus.

E terminei a minha anedota tal qual uma cerveja: gelado e em cima de uma mesa.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

aquatarkus

Fui ao armazém comprar alguns víveres, entre eles um quilograma de chã. Quando cheguei no setor de carnes e fiz esse pedido fui surpreendido pela seguinte declaração do açougueiro:

- Só chá? Sem o patinho e o lagarto? Olha, rapaz, é a primeira vez em quase vintes anos como açougueiro que alguém me faz um pedido desses. Eu nem sei se temos autorização pra vender o chã separadamente. lha, você fique onde está, não saia daí, que vou correndinho chamar o gerente. Não sai daí.

Fiquei surpreendido. Afinal, o que havia de tão incomum em pedir um quilo de chã? Enquanto o gerente do armazém não chegava me distraí namorando uma bela peça de picanha que estava pendurada na vitrine. no meio desse flerte chega o tal do gerente. Faz cara de surpreso, chega mudou de cor com o relato do açougueiro sobre o meu pedido, e me respondeu bem assim:

- O senhor me perdôe, mas infelizmente só podemos vender o chã junto com o patinho e o lagarto. São as normas do recinto e não podemos mudar. É uma cláusula pétrea do nosso estatuto. E pode reclamar à vontade. Preferimos perder um cliente do que queimar eternamente no fogo do Inferno.

Não me contive com a audácia. Se ele tivesse simplesmente que não podia por causa da norma, tudo bem. Eu ficaria contrariado, lógico, mas compreenderia. Mas a forma como aquilo foi dito realmente me deixou irado. Saí de lá dirigindo altos palavrões proletários para o tal gerente, e encaminhei-me para o açougue da rua, à distância de um único quarteirão.

Fiquei surpreso ao receber a mesma resposta. Mas o açougueiro pelo menos foi mais gentil ao me responder:

- Oh, meu querido, infelizmente não podemos fazer a venda de uma dessas espécies de carne separadamente. Até porque, que graça teria? Seria como a marmelada sem o queijo, e namoro sem beijo.

Essa estória de namoro e de beijo vindo daquela voz mansa e suave do açougueiro com o cutelo numa mão e o pincel atômico na outra foram a deixa para que eu me retirasse da carniceria. Vai saber onde aqueles versinhos poderiam terminar? Vai saber?

No terceiro lugar para onde fui recebi a mesma resposta, e par não sair de mãos vazias comprei pá e acém. Nos dias seguintes procurei em outros estabelecimentos e nada de poder comprar só o chã. Era sempre chã, patinho e lagarto! Chã, patinho e lagarto. E outra coisa curiosa: sempre anunciados e mencionados nessa mesma ordem. Nunca vi ninguém falar dessas carnes como patinho, chã e lagarto, ou chã, lagarto e patinho. Curioso e pitoresco, não é mesmo?

Lembrou de Emerson, Lake & Palmer, Gessinger, Licks & maltz, Peter, Paul & Mary, Giles, Giles & Fripp, Crosby, Stills & Nash, Earth, Wind & Fire, Blood, Sweat & Tears...

terça-feira, 5 de maio de 2009

sem saber em que bicho vai dar

Teobaldo era novo na empresa, tinha menos de uma semana de casa, mas tinha fixado na sua cabeça aquele velho ditado que diz que o saco do chefe é o corrimão da vida. Assim, nesse pouco tempo de agência ele descobriu, vejam que coisa boa, que o Gerente Geral, o poder máximo do recinto, morava na mesma rua que ele, a poucas casas de distância.

Assim, o que Teobaldo resolveu fazer? Simples: depois de acordar e tomar banho, ele chegava da janela, bem na hora que o Gerentão estava saindo de casa. Então ele prestava atenção na cor da roupa dele e vestia-se com trajes da mesma matiz.

No primeiro dia ninguém reparou. Terno preto e camisa branca, até aí tudo bem. No segundo, terceiros dias ninguém deu muita pelota também, mera coincidência, por que não? Mas chegou uma hora em que a coisa ficou realmente escrachada. E quem resolvesse parar um pouco pra pensar e somar dois com dois logo se lembraria de coisas que Teobaldo falava a torto e a direito em qualquer lugar da agência, na presença de qualquer um de seus colegas de trabalho. Pérolas como essa: "Eu quero é subir de vida, e se pra isso eu tiver que puxar o saco eu puxo mermo, não tô nem aí!"

Maldosamente, alguns de seus colegas de trabalho, ao reparar no efeito "par de jarras" proporcionado por Teobaldo, começaram a levantar suspeitas sobre um affair homo-afetivo entre os dois. Fuxicos pelas costas, é lógico.

Numa dessas manhãs de janela Teobaldo chegou para observar qual a cor da roupa do seu "espelho", na mesma hora cravada em que o "chefinho" sempre saía, e nada. Ele até estranhou: será que o chefe saiu um pouco mais cedo? Mas não era isso, o seu carro continuava estacionado em frente à casa. Resolveu então prestar atenção no movimento da casa, lançando o seu olhar em direção à janela da casa. Não viu seu chefe, mas viu a esposa do mesmo distraidamente se trocando. Isso em si nem chamou tanto a atenção de Teobaldo, pois a esposa do seu chefe estava longe de ser grandes coisas: sequinha, sem graça, sensaborona.

Mas para infelicidade de Teobaldo nem nesse momento o seu olhar se cruzou com o do seu chefe que chegou à janela bem àquele momento. E para infelicidade ainda maior de Teobaldo não teve como disfarçar. E o pior é que nem era uma visão que valesse sequer um décimo da encrenca que ele acabara de arrumar. Sentiu raios a dardejá-lo vindo do seu chefe.

Meu dEUS! O que será que o esperava assim que chegasse à agência? Aliás, valeria a pena pagar pra ver? Tomado por um temor quase irracional, Teobaldo não foi à agência naquele dia. Ficou o dia inteiro em casa relembrando a todo momento aqueles breves segundos do mais puro horror. E assim ele fez no dia seguinte. E no outro. O seu telefone tocava, mas ele não atendia. Tinha medo de que fosse o gerentão querendo uma satisfação sobre aquele mal fadado flerte.

Os dias viraram semanas, meses, e por aí foi. Teobaldo, que sempre zelou muito por uma aparência impecável, bem mauricinho mesmo, deixou-se levar e ficou totalmente desleixado. Não cortou mais o cabelo, deixou a barba crescer ininterruptamente, e depois de vários meses viu que assemelhava bastante àquele cabeludo visionário, considerado o maior sociólogo de todos os tempos.

E bem no espírito da época, Teobaldo saiu de casa apenas com a roupa do corpo, caminhando a esmo, ao sabor dos ventos, até que encontrou outros jovens parecidos com ele, uma verdadeira geração bendita.

Moral da estória?

domingo, 3 de maio de 2009

paiol, ô paiol!

Eram dois meninos (que nunca entraram juntos em um vagão, que fique bem claro isso) que se divertiam nas tardes de sábado sintonizando o seu radinho de pilha cheio de estática nas estações de ondas médias, captando sinais de estações de outros países do mundo.

A coisa começou de forma bem inocente, primeiro captando conversas de rádio amador de pessoas da própria localidade. Depois eles começaram a conseguir captar estaçõs de outras cidades, e até mesmo de outros estados da Federação. Até que começaram a captar de outros países. Começou com alguns países com os quais fazemos fronteira, como Uruguai e Argentina. Foi lá que ouviram Almendra pela primeiríssima vez, e só por isso já valeu a experiência.

E depois começaram a captar sinais de países além do Oceano, até mesmo do Japão e, em especial, da Turquia. Lá escutaram gênios musicais como rkin Koray e Cem Karaka. Como se deleitaram com essa música tão diferente das modinhas de viola que escutavam nos luais de fim-de-semana das suas cercanias...

Certo dia, mexendo daqui e mexendo dali, escutaram uns sons esquisitos. Se alguém pedisse para eles reproduzirem seria impossível. Mesmo eles que tinham um conhecimento musical privilegiado ficaram sem conseguir distinguir quais os instrumentos usados nessas músicas. Ao mesmo tempo não conseguiam tirar da estação ou desligar o rádio. Estavam como que hipnotizados. Já estavam há us 40 minutos sintonizados e a música não acabada. Mas também não era algo repetitivo. Era impossível de se explicar o que era. Ravi Shankar perdia. Van der Graaf Generator perdia. E por aí vai.

Passou-se mais de uma hora e meia e a música continuava, sem dar sinais de que ia acabar. Ficou tão tarde que, mesmo contra a sua vontade, os meninos desligaram o rádio e correram para suas casas, sabendo que a vara de marmelo os esperava.

No dia seguinte tentaram sintonizar de novo a tal rádio, mas não obtiveram êxito. Pegaram seus violões e tentaram reproduzir o que ouviram, mas foi impossível. Mas mesmo sem conseguir reproduzi-la para terceiros, os dois meninos nunca mais esqueceram aquelas estranhas notas que ouviram naquela tarde interiorana, através do seu radinho de ondas curtas.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

obstetra obstruído

Todos estavam à sua volta, super curiosos querendo saber o que ele tinha a dizer. Afinal, esse senhor à nossa frente estava completando nada mais nada menos do que cento e dezesseis anos de idade. Nem sei se esse é um recorde ou não, pouco me importa. O que me importa é que é um fato e tanto para se comemorar.

E o mais incrível é que ele, Philadeppho (escrito assim mesmo, com PH no fi e no fó)estava firme, lúcido, e folgazão e ágil como um meninote, contrariando todas as leis da física. As pessoas ao seu redor o enchiam de perguntam, e a pergunta feita pela minha pessoa talvez o tenha incomodado um pouco, ou até mais do que isso. Perguntei assim:

"Como o senhor conseguiu chegar até esta idade com tanta saúde e disposição? Foi fietiço, magia negra, voodoo, candomblé, umbanda, quimbanda..."

Com um jeito de quem é muito temente a Deus, e benzendo-se um tanto de vezes, Philadelpho respondeu-me:

"Não, meu mais do que jovem, não recorri a nada disso" E fazendo um sorriso típico de garoto propaganda em reclames de TV segurando o produto a venda, contou-me o seu segrede, e doi assim mesmo que ele disse:

"Eu bebo cachaça".