quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

genipapos perdidos

falei das flores. dos gerânios, das dormideiras, das bromélias, e de muitas outras. e não tem como falar de flores sem citar as coroas de flores. aquelas mesmas que se bota em cima dos caixões. é engraçado isso. ela (sim, ela mesma) atormentou a cabeça do coitado sem parar durante os últimos anos de vida dele, e na hora do enterro fez questão de presenteá-lo com a maior coroa de flores de todo o cemitério. ouso dizer que foi o presente mais precioso que ela deu pra ele. eu ia dizer "presentes que ele recebeu em vida", mas logo vi que essa sentença não seria correta neste contexto. sim, pra vocês verem, a coroa de flores (que não era nem aqueeela coroa...) foi o presente mais precioso, sem sombra de dúvida. Os dois filhos? tsc, tsc. fica difícil saber qual dos dois deixava o velho pai mais desgostoso: o menino ou a menina. a menina entrou de cabeça nessa onda de igualdade dos sexos, moda unissex e coisa e tal, e se veste como se fosse um fazendeiro. macacão jeans, galochas, e às vezes não usa nem brinco nem batom. o filho é aquilo. o extremo oposto, mas igualmente fervoroso seguidor da moda unissex. foi só sair da infância e adentrar no maravilhoso mundo da adolescência que o menino resolveu virar um curtidor de moda. e essa onda de curtir a moda e transar as manias do momento inclui flertar com o homossexualismo, a depravação gratuita e o consumo abusivo de substâncias alteradoras do estado de consciência. agora vê se um homem honrado, honesto e trabalhador como ele era merece um sofrimento desses? foi uma rasteira muito bem dada pelo destino. um golpe traiçoeiro dos mais baixos. infelizmente não tive acesso ao seu laudo, mas garanto que a causa mortis deve ser algo como "dotô, por favô, mi ajude-me. o meu coração zin já não tem mais aquela resistência dos 19 anos. tem certas coisas que eu sou obrigado a ver no sieo do meu próprio lar que benza deus. o ser humano está sempre falando na busca pelo progresso, para resolver os problemas que afligem a humanidade...mas que modernidade é essa que nos dá de presente visões e sons que parecem ilustrar o fim dos dias? antes que o mundo todo se acabe ou se transforme em um local totalmente inabitável para um humilde servo do nosso senhor jesus cristo, eu imploro: pare o bonde da vida agora, pois eu quero e preciso desesperadamente descer".

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

origami do sul

ele é o primeiro a chegar, e o último a sair. todo dia tem que ouvir a mesma piadinha besta: "dormiu aqui?". e olha que ele nem morava ao lado. pra chegar ele tinha que pegar dois ônibus, quase duas horas de sufoco, e invariavelmente era assim: o primeiro ônibus ele pegava já entupido de gente, mal dava pra ele entrar. no segundo há de se dizer que a coisa ficava mais tranqüila, pois ele pegava no ponto final. dessa forma, ele podia até escolher o acento. em compensação era o trecho do trajeto que tinha o trânsito mais enjoadinho. e ele nem gostava do serviço, pra dizer a verdade. estava lá só pelo arame mesmo. era um pacifista, não gostava nem um pouco dessa estória de tiro, pontaria, revólver... na ocasião do plebiscito de 2005 ele voltou pelo desarmamento, e ainda fez campanha junto aos amigos e aos vizinhos de condomínio. nesse dia lá foi ele e o seu vizinho, que não parava de reclamar da proibição de venda de bebidas alcoólicas. parecia chicago nos anos quarenta, como diz aquela canção popular. futebol? futebol para ele era sinônimo de violência. "é só botar no noticiário que logo vocês vêem que eu tenho razão", ele não se cansava de dizer. "é jogador baixando cacetada no juiz, é torcedor invadindo o campo e dando tesoura voadora nos outros. é torcida contra torcida... às vezes há brigas até entre torcidas do mesmo time. você não vê essa mesma violência entre os jogadores de gamão, de víspora, de ludo, resta um...". sim, ele era um grande entusiasta dos jogos de tabuleiro. damas e xadrez ele não transava muito. o primeiro ele achava chato mesmo, e o segundo ele nunca se interessou muito em aprender. baralho também não lhe enchia os olhos. "é jogo de malandro", ele dizia. "é o primeiro passo pra depois comprar umas garrafas de destilados, um cigarrinho de maconha, uma pistola, e assim sucessivamente". os amigos o consideravam exagerado, um antiquado mesmo. cheio de grilos na cuca, não transava isso, não transava aquilo... mas se você estava em apuros e precisava de uma ajuda, sabia logo com quem podia contar. até que um dia o improvável aconteceu: depois de muitas tentativas frustradas, o cupido finalmente acertou uma flecha em péricles. péricles é um rapaz cheio de energia e que se amarra em curtir altos agitos, e que acha que a vida é pra ser vivida. não se estressa com nada, só com o seu próprio nome, do qual nunca foi muito fã. prefere que o chamem de pepê, tal qual um de seus maiores ídolos. nos fins de semana, quando não estava isolado da civilização transando o corpo e travando um contato mais intenso com a mãe natureza, se transformava no maestro da night e, como se diz por aí, 'pegava todas'. não era muito adepto do relacionamento sério. "amores vêm e vão, são aves de verão", ele costumava dizer, repetindo os versos de uma de suas canções favoritas da nossa MPB. MPB sim, e pra mim isso é mais popular do que as intelectualoidices do caetano ou o zeca baleiro, nem um pouco popular, diga-se de passagem, falando sobre stephen fry. como se o popular que assiste ao programa do faustão emendado com o jogo de futebol novamente emendado com o faustão, e que torce pelo seu ator favorito na dança dos famosos e pipoca de rir com as videocassetadas, estivesse muito interessado em stephen fry ou em saber que na hora do lunch ele vai de ferry boat. haja paciência, já dizia humberto gessinger.

sábado, 27 de dezembro de 2008

garoa do terror

Desde que eu sou um guri mínimo, fininho que nem um mosquito, eu ouço falar sobre o tal pulo tecnológico da China. Uma modernidade sem precedentes. Tecnologia beirando os limites da imaginação humana. E tinha um moleque chato que cismava que os baluartes da tecnologia e desenvolvimento eram os portugueses. Puro bairrismo babaca, só porque a familia dele por parte de pai era composta basicamente formada por gente da nacionalidade anteriormente citada. Ou seria a família por parte de mão que... ah, que me importa? Como torta?

Passaram-se quase vinte e cinco anos, e os chineses não dominaram o mundo, como todos nós achávamos que fosse acontecer. Faz até mais sentido dizer que a Coca-cola já tomou conta da China.

E a nossa cidade? Cada vez mais violenta...

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Japonês folclórico

Foi eleito o novo prefeitinho da Zona Suda carioca, Francesco Bouarc d'Ollaynez Morelembaum III, o Chiquitito.

Passando por cima de tudo e de todos, a primeira providência que ele tomou foi a de iniciar novas construções do metrô. Só que, vejam só como é a megalomania de determinados espécimes da raça humana: uma megacomplexa linha de metrô ligando a capital carioca às principais capitais da América do Suda. Quando questionado sobre o porquê dessa obra faraônica, Chiquitito respondeu: "Ah, bicho. Sabe como é, né? América do Suda, Zona Suda...". Ui. Uma integração até a estação Palermo, por favor...

Agora, estação pro Pechincha eles não fazem. Mas se eu quiser ir pra Caracas é só fazer uma baldeação quando chegar à Pavuna. Disse Ciquinho:

"É claro que com o avião fica bem mais rápido chegar a Buenos Aires. 3 horas, nada mais. Mas em compensação de metrõ você fará essa viagem com um preço mais de 100 vezes barato."

O povo aplaudia até as mãos ficarem encarnadas e em brasas. Até aí, tudo bem. Ele poderia nesse momento revelar que a constituição óssea das suas vias teve que ser substituída por platina que as pessoas aplaudiriam da mesma forma.

Do outro lado da rua, sentados no meio fio, estavam Soró, o ceguinho, e seu fiel companheiro, o jovem Jiló. Soró, com ouvidos atentos, pergunta para o seu jovem ajudante:

"Jiló, é um ônibus ou um caminhão que está a passar?"

"É um caminhão, Soró."

"Ah, tá. Hoje em dia é difícil distinguir o som de um e de outro."