domingo, 19 de abril de 2009

zerando

A ação aconteceu em uma feirinha de subúrbio. Sim, foi isso.

Primeiro chegou um tecladista. O povo começou a se juntar, curioso. Provavelmente, pensariam eles, o tal tecladista puxaria um forrozinho acompanhado de uma batidinha eletrônica xinfrim do teclado.

O tecladista começa então a tocar. E era uma música estranha, complicada, ninguém dali nunca tinha ouvido nada assim. Mas acharam bonito. Alguns até arriscaram algumas palminhas, tentando acompanhar.

E foi assim por uns 3 minutos que pareciam uma eternidade. Uma maquininha de fumaça bem qualquer nota deu umas baforadas no chão, e de repente, por detrás de um biombo, sai um sujeito magrinho, careca, todo de preto, se sacolejando. Parecia que ele tinha acabado de sair do coiffeur onde trabalha pra ir lá.

De repente ele abre a boca e canta "Love me Tender", do velho Élvio. Os mais antigos, que conheciam essa canção popular, ficaram confabulando: mas que coisa. Cadê a roupa, o cabelo de Élvio? Pelo menos a voz é idêntica! Se eu fechar os olhos será como se o velho Élvio estivesse do meu lado cantando na minha presença! E sem precisar de tocar atabaques, beber cachaça, matar bodes e fumar cachimbos e charutos para trazê-lo ao mundo dos vivos!

Élvio e seu amigo marcos, o tecladista tocaram por quase uma hora, e o povo ahou sensacional. Tinha um sujeito de camisa vermelha, inclusive, que vibrava como se estivesse a dar a vida pelo novo/velho ídolo. E o resto do povo dançava animadamente. Os que não conheciam as músicas batiam palmas para acompanhar. Mas todos com muita emoção e alegria.

Quando terminou o show o dublê de Élvio foi abordado por uma senhorinha, que provavelmente já era adulta quando do sucesso original do velho Élvio. Ela vei elogiar o dublê, dizendo que a sua dublagem do velho Élvio estava perfeita. O dublée, achando graça e ao mesmo tempo se sentindo lisonjeado pela semelhança, disse que na verdade ele não estava dublando, que era a voz dele. Para provar ele deu uma palhinha de Bossanova, e a senhorinha se desfez em lágrimas de emoção, como se estivesse cara a cara com o próprio Renato Russo, quiçá o Cazuza.

E assim o nosso amigo dublée do velho Élvio e seu amigo tecladista Marcos recolheram as suas coisas, guardaram no seu Corsa e foram para o seu próximo show, em um circo mambembe em uma cidade do interior próxima à capital. E adivinhem quem estaria nesse show vibrando com emoção? Raimundo Nonato? Não, aquele mesmo sujeito da camisa vermelha.

Um comentário:

ELENA BARROS disse...

A voz do cara, meu! A voz do cara! Isso é q é arte! Levem Marcus e Gafanhoto ao Plano B, please, com urgência! A cultura brasileira agradece!