terça-feira, 5 de maio de 2009

sem saber em que bicho vai dar

Teobaldo era novo na empresa, tinha menos de uma semana de casa, mas tinha fixado na sua cabeça aquele velho ditado que diz que o saco do chefe é o corrimão da vida. Assim, nesse pouco tempo de agência ele descobriu, vejam que coisa boa, que o Gerente Geral, o poder máximo do recinto, morava na mesma rua que ele, a poucas casas de distância.

Assim, o que Teobaldo resolveu fazer? Simples: depois de acordar e tomar banho, ele chegava da janela, bem na hora que o Gerentão estava saindo de casa. Então ele prestava atenção na cor da roupa dele e vestia-se com trajes da mesma matiz.

No primeiro dia ninguém reparou. Terno preto e camisa branca, até aí tudo bem. No segundo, terceiros dias ninguém deu muita pelota também, mera coincidência, por que não? Mas chegou uma hora em que a coisa ficou realmente escrachada. E quem resolvesse parar um pouco pra pensar e somar dois com dois logo se lembraria de coisas que Teobaldo falava a torto e a direito em qualquer lugar da agência, na presença de qualquer um de seus colegas de trabalho. Pérolas como essa: "Eu quero é subir de vida, e se pra isso eu tiver que puxar o saco eu puxo mermo, não tô nem aí!"

Maldosamente, alguns de seus colegas de trabalho, ao reparar no efeito "par de jarras" proporcionado por Teobaldo, começaram a levantar suspeitas sobre um affair homo-afetivo entre os dois. Fuxicos pelas costas, é lógico.

Numa dessas manhãs de janela Teobaldo chegou para observar qual a cor da roupa do seu "espelho", na mesma hora cravada em que o "chefinho" sempre saía, e nada. Ele até estranhou: será que o chefe saiu um pouco mais cedo? Mas não era isso, o seu carro continuava estacionado em frente à casa. Resolveu então prestar atenção no movimento da casa, lançando o seu olhar em direção à janela da casa. Não viu seu chefe, mas viu a esposa do mesmo distraidamente se trocando. Isso em si nem chamou tanto a atenção de Teobaldo, pois a esposa do seu chefe estava longe de ser grandes coisas: sequinha, sem graça, sensaborona.

Mas para infelicidade de Teobaldo nem nesse momento o seu olhar se cruzou com o do seu chefe que chegou à janela bem àquele momento. E para infelicidade ainda maior de Teobaldo não teve como disfarçar. E o pior é que nem era uma visão que valesse sequer um décimo da encrenca que ele acabara de arrumar. Sentiu raios a dardejá-lo vindo do seu chefe.

Meu dEUS! O que será que o esperava assim que chegasse à agência? Aliás, valeria a pena pagar pra ver? Tomado por um temor quase irracional, Teobaldo não foi à agência naquele dia. Ficou o dia inteiro em casa relembrando a todo momento aqueles breves segundos do mais puro horror. E assim ele fez no dia seguinte. E no outro. O seu telefone tocava, mas ele não atendia. Tinha medo de que fosse o gerentão querendo uma satisfação sobre aquele mal fadado flerte.

Os dias viraram semanas, meses, e por aí foi. Teobaldo, que sempre zelou muito por uma aparência impecável, bem mauricinho mesmo, deixou-se levar e ficou totalmente desleixado. Não cortou mais o cabelo, deixou a barba crescer ininterruptamente, e depois de vários meses viu que assemelhava bastante àquele cabeludo visionário, considerado o maior sociólogo de todos os tempos.

E bem no espírito da época, Teobaldo saiu de casa apenas com a roupa do corpo, caminhando a esmo, ao sabor dos ventos, até que encontrou outros jovens parecidos com ele, uma verdadeira geração bendita.

Moral da estória?

3 comentários:

mussorgsky disse...

moral?
quem cheira muito cu, fica com cheiro de merda no nariz. melhor deixar esses fedores para os fundilhos, não acham?

ELENA BARROS disse...

Análise psicológica da história:

Teobaldo é gay. Nutria uma paixão inconsciente pelo saco de seu chefe e, como o próprio texto nos prova, desdenhava da figura desnuda da mulher do mesmo. Sexualmente reprimido, encontrou-se com os outros cabeludos da geração bendita e deu pros bichos, a bicha.

Moral da história:

Se um outro cabeludo aparecer na sua rua...vá com ele!

E mais:

O sociólogo-vidente é Fernando Henrique, Nostradamus ou Ian Gillan, melhor de todos?

Chupa essa manga e cospe o caroço, se não gostar tanto da fruta...

amélia disse...

geremário, não consegui ler seu texto todo, porque ler mais de dois parágrafos me cansa muito, sabe? mas achei o texto muito inteligente, sabe? dá uma passadinha lá no meu blog, é super cult! uhuuuuuuu
beijos!