domingo, 17 de maio de 2009

portuários

Todo dia eu saía pra trabalhar, e lá pelas 8 e poucas da manhã eu passava pelo botequim que fica a poucos quarteirões da minha casa, onde eu visualizava já uma pequena turma com o copo em mãos. Quando eu voltava do trabalho e obrigatoriamente passava em frente a esse mesmo recinto, por volta de umas 12 horas depois, o movimento já estava mais intenso, mas notava que aquela mesma turma que eu via de manhã permanecia ali, quase que em sua totalidade.

A princípio isso me intrigava. Eu tentava imaginar como é que essas pessoas conseguiam levar tal estilo de vida. E o pior, de domingo a domingo. A qualquer dia e hora que eu passasse por lá encontraria aquela mesma turma. Podia mudar até o atendente, mas a velha turma nunca. Jamais.

Com o passar dos dias essa intriga foi transformando-se em inveja. Aí toda vez que eu passava por lá, principalmente quando eu estava a caminho do abate - quer dizer, do trabalho - e eu via aqueles desocupados com o semblante inchado e marejado eu automaticamente pensava de mim para mim: "Eu é que queria ter essa boa vida. Passar o dia inteiro fazendo o que gosto, e esquecendo-me dos meus problemas e de toda a humanidade em geral. E pra ficar todo dia assim provavelmente esses safados devem ser sustentados por alguém. No caso dos mais novos, que não devem ser aposentados, devem ter uma esposa iludida que dá um duro danado pra pagar o aperitivo desses indolentes..."

Numa manhã de segunda-feira, ao passar pela enésima vez por aquele botequim no meu trabalho, deu-me algo na cabeça e resolvi parar naquele bar. Encontrei um espaço entre aqueles corpos que pareciam estar plantados ali há dias e solicitei uma Skol. O toque elegante e curioso desse meu pedido é que fazia muitos anos que eu não botava uma gota de álcool na boca. O atendente deve ter estranhado o contraste entre a minha figura, com roupa limpa e bem passada e os cabelos recém-lavados esculpidos por uma fina camada de gomalina, e a figura daqueles corpos em tal estado que só eram conservados pelas injeçõs (via oral) homéricas de álcool etílico.

Aqueles que pensam que eu me limitei a uma única Skol e depois segui o meu caminho rotineiro para a lida estão redondamente enganados. Já os que intuiram que uma Skol puoxu a outra que puxou a outra, e assim sucessivamente, estão e... eeeê, São Paulo... ê, São Paulo... exatos!! Só me levantei daquele banco depois que o Sol havia se posto. Na verdade horas depois desse fenômeno natural. Lá pras nove da noite levantei-me, sabe-se lá com que forças, e encaminhei-me para a minha residência, parecendo uma garrafa de Velho Barreiro ambulante. Vale ressaltar que a minha degustação etílica não restringiu-se somente às cervejinhas. Aventurei-me também por outras sortes de traçados e licores.

E assim foi nos dois dias seguintes. Como eu não tenho a mesma resistência física dos meus "colegas" de balcão não pude agüentar essa bebedeira por muito tempo. E não demorou para que eu pagasse um preço muito alto por essa imprudência. Tal qual um River phoenix (se é que é assim que se escreve). Com a diferença de que um apaixonado Milton nascimento não fez nenhuma canção de lamento para mim. Vendo a coisa por esse prisma, graça a Deus.

E terminei a minha anedota tal qual uma cerveja: gelado e em cima de uma mesa.

Um comentário:

ELENA BARROS disse...

O triste fim de Geremário Geres... e o trabalho? Foi despedido? Ou pegou um bim?